VÉSPERA >> Carla Dias


Véspera é sala de espera interior. Não importa qual conclusão ela anuncie, as pistas que ela dê sobre possíveis desfechos, todos sofremos um pouco de ansiedade por uma mudança provocada pelo fim dando espaço ao começo.

Nunca fui frequentadora das festas de fim de ano, desde pequena. Passava o Natal e o Ano Novo assistindo TV, de preferência, filmes com Fred Astaire como protagonista. Gostava das coreografias, achava elegante o dançar dele e das vezes em que big bands participavam dos filmes. Gostava de rever os familiares que passavam para um olá e, claro, da comida diferente da servida na rotina. 

Não assistia a desenhos. Sou praticamente analfabeta neste quesito, mas foi algo natural. Eu me interessava por assuntos de adultos, mesmo sem ainda entendê-los direito. Por isso os filmes me agradavam tanto. Eu topava o que viesse – ou conseguisse assistir sem que me interrompessem com “tá na hora de ir pra cama” ou “isso não é coisa pra criança” –, até mesmo os que me davam medo, como os filmes de guerra. 

O que eu não entendia naquela época, na véspera da minha vida adulta, é que os filmes, os livros, e até os programas de auditório eram um apanhado de possíveis realidades que caíram nas redes da ficção. Hoje em dia, compreendo que muito do que chamavam “diversão” nascia do aprofundamento e livre adaptação de uma série de relatos de vivências, experiências projetadas ou de fato vividas por seus autores.

Nesta véspera, desejo a todos o melhor que se pode desejar a outro ser humano. Diferentemente da maioria das nossas vésperas, essa nos impulsiona a pensar no novo, no diferente, no melhor. Também desejo, a vocês e a mim, não desaprendermos as lições difíceis catalogadas em 2025, mas sim mantê-las como fonte de quem não queremos nos tornar, do que precisamos assumir como nossa responsabilidade para trazer as mudanças necessárias, e da capacidade de pararmos e ativarmos nossa compreensão ao encararmos o diferente, o complicado, o que é bonito, mas não panfleta a respeito, pede para pararmos e observá-lo, entendermos suas nuances.

Que 2026 seja um palco digno de uma daquelas cenas lindeza de Fred Astaire, que trazem tanta alegria, impulsiona a capacidade de sonhar e inspira a vontade de realmente conhecer o diferente, o que está tão distante da nossa realidade. 




Comentários

Postagens mais visitadas