ANOS INCRÍVEIS >> JANDER MINESSO
Você sabe quais foram os melhores anos da sua vida? Eu tenho os meus favoritos. Chamem de nostalgia, mas gosto de revisitar a lista de vez em quando.
Acho que o primeiro de todos foi 1991. Tive a sorte de integrar a 3ªB da Escola Estadual de Primeiro Grau Dom Benedito Paulo Alves de Souza. Sob a tutela da carismática e brilhante professora Selma, nossa turma venceu a Festa Junina do colégio, ganhando como prêmio uma excursão para o Playcenter — a Disney possível. Foi nessa excursão que me apaixonei pela primeira vez, por uma das meninas da classe, fato que pesa muito a favor de 91. Parando para pensar, aposto que também foi um momento excelente para minha querida mãe. Foi a partir dali que o caçula dela começou a ir para a escola sem abrir um berreiro todo santo dia.
Outro memorável foi 1995. Durante muito tempo, ele ocupou o topo da minha lista. Primeiro, porque minha paixão do parágrafo acima e eu estávamos na mesma classe. Além disso, conheci um grande amigo em um evento de RPG — aquele jogo de nerd que alguém te disse que era coisa do diabo. Formamos uma trupe que cresceu junta e se separou por conta da vida. Mas a amizade segue, graças ao tal jogo. Ainda que hoje me dê preguiça só de pensar em Dungeons & Dragons, me diverti horrores à época. Para coroar, em 95 assisti pela primeira vez a uma série de TV espetacular que, inclusive, dá título à crônica. Passava horas imaginando que o crush do parágrafo acima era minha Winnie Cooper. Nunca ficamos juntos.
De 1996 a 2001, fui adolescente. Não recomendo.
Depois dessa fase, veio o grandioso e extravagante 2002. Que conjunto de trezentos e sessenta e cinco dias! (Podem confiar: eu chequei e 2002 não foi bissexto.) Foi nele que assumi meu primeiro namoro oficial. Não mais um crush, não mais uma ficadinha: um namoro. Era tanta alegria que eu mal pisava no chão. Também foi aqui, na aurora do novo milênio, que larguei um modorrento curso de Administração de Empresas para “estudar” Rádio e TV. Eu amava tudo na nova faculdade. A praça central. As aulas, quase sempre interessantes. Os bares ao redor, ainda mais interessantes. Os amigos. Os desafetos. Tudo. Ali, vivi meu misto de Trainspotting com Curtindo a Vida Adoidado e acho que, em maior ou menor grau, todos os anos universitários subsequentes valeram muito a pena, ao menos pelas boas histórias. Tomemos a chácara de Ibiúna como exemplo. Não entrarei em detalhes sobre o local, mas foi lá que fraturei um punho numa infeliz manobra etílico-lisérgica. Nesse mesmo local, vislumbrei um espírito da floresta trajando uma camisa do Flamengo, experiência mística que moldou meu caráter e me fez abandonar as drogas recreativas.
Me formei na faculdade em 2006, período que também marcou meu ingresso na vida adulta. Dali em diante, a bênção de ser um filho da classe média mimado pelos pais cedeu lugar às contas e às cobranças, de modo que a magia da vida se desvaneceu um pouco. Mas ainda tive a sorte de passar por mais alguns belos anos.
Um bom exemplo foi 2009, minha estreia como roteirista (na verdade, assistente de roteiro) em um grande projeto de televisão. Não sei se era um programa bom de assistir, mas foi bom de escrever. Nesse projeto conheci outro grande amigo, que segundo ele próprio nunca precisou de um roteirista na vida. Em Curitiba, ainda gravando esse programa, também conheci uma menina que usava blusa de oncinha. À época, não dei muita bola, mas a vida faz voltas curiosas.
Cerca de mil dias depois, já no movimentado 2012, voltei a conversar com a menina da blusa de oncinha que morava em Curitiba. Passei boa parte do ano dentro de um ônibus, pegando a Régis Bittencourt de ponta a ponta. Inclusive, num feriado prolongado, um acidente na estrada fez com que a viagem demorasse o dobro do previsto. Durante todo o trajeto, o camarada no assento ao lado tentou me convencer a comprar o Veloster seminovo do irmão dele, que estava um brinco. Até hoje, não posso ver um Veloster que me dá um negócio.
Apesar disso, senti naquele ano a dor e da delícia de ter pouco dinheiro e viver a quatrocentos quilômetros da pessoa amada. Nossos encontros eram breves e intensos. Os hiatos, infinitos. Era bom demais. Também foi nesse período que me estabeleci profissionalmente como um roteirista de algum sucesso, carreira que me permitiu convencer um apresentador a imitar o Chewbacca em rede nacional; conhecer a ex-namorada de um grande ídolo; e ver uma paranormal evangélica tentando desvendar um crime ocorrido em um motel de beira de estrada. Talvez seja o top três da minha carreira.
De lá para cá, vivi muitos bons momentos: viajei, toquei em bandas, escrevi, andei por aí (gosto muito de andar) e fiz novos amigos. Poucos, mas fiz. Ainda assim, não posso dizer que, depois de 2012, passei por anos incríveis em sua completude. Talvez a vida fique mais multifacetada conforme o tempo passa. Ou, talvez, a protagonista do DivertidaMente 2 tenha razão: quando as pessoas ficam mais velhas, elas sentem menos alegria. Não posso reclamar. Vivi um punhado de belas voltas ao redor do sol e gosto de pensar que mais algumas ainda vêm por aí. É um pouco inocente, mas a esperança é um mal necessário.
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Imagem: Champverti, por Pixabay



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