O HOMEM DOBRADO >>> NÁDIA COLDEBELLA



Sentada no banco da praça, a menininha observava.

Ela viu um homem encurvado, andando lentamente, carregando uma enorme bolsa nas costas. Não tirava os olhos dos próprios pés. Sabia a cor da terra, as ranhuras do solo, cada pedrinha do caminho — mas nada do que havia à direita ou à esquerda.

Ele tentava manter o equilíbrio. Às vezes tropeçava, fazia um esforço extra para não cair. Até que, num momento derradeiro, o esforço foi inútil. A menina o viu tombar de joelhos sobre as pedras. O que ela não notou foi que, ao cair, o homem só pensou em proteger a bolsa.

Assustada, ela gritou:

— Moço! Você está bem?

Ele pareceu não ouvir. Sentou-se com dificuldade, pôs a mala ao lado e verificou se nada havia sido danificado. Só então olhou para os joelhos, em carne viva. Apenas retirou as pedras grudadas na pele e levantou-se. Encostou-se num poste e lamentou:

— Oh, Deus! Por que me castiga assim? Ai de mim!

Lágrimas grossas escorriam pelo rosto sujo. Ele continuou, em profunda autocomiseração:

— Logo eu, que sigo o caminho que Tu me deste, equilibrando-me para não derramar o peso que carrego? Por que me deixaste cair, Senhor?

Quando ergueu a cabeça para reforçar sua queixa, viu os olhos curiosos da menina, que se aproximara:

— Moço, você está bem?

Ele apenas enxugou as lágrimas.

— Moço — insistiu — essa mala é muito pesada. Você precisa de tudo o que tem dentro dela?

Ele a encarou feio, abraçando a bolsa.

— Eu não sei o que tem dentro dela.

A menina arregalou os olhos.

— Você não sabe? Então por que carrega?

Ele ficou confuso. Era a primeira vez que pensava nisso.

— Porque Deus quis assim — respondeu, enfatizando o “Deus quis”.

A menina murmurou, pensativa:

— Acho que Deus ia querer que você olhasse o que tem dentro.

As palavras ecoaram. Ele tentou ignorá-las, mas não conseguiu. Depois de longo silêncio, abriu a bolsa. Tocou um objeto áspero, agarrou-o e retirou uma pedra grande. Depois outra, e outra, até formar uma pequena pilha. No fundo, encontrou uma pepita de ouro. Pequena, valiosa, leve o suficiente para caber no bolso do casaco.

Sentou-se no chão, assombrado.

A menina torcia para que ele se levantasse, endireitasse o corpo e abrisse um sorriso.

Mas ele não disse nada.

Depois de um tempo, levantou-se, ainda encurvado. Abriu a sacola, jogou a pepita dentro e a encheu novamente com as mesmas pedras de antes. Colocou-a nas costas com grande esforço e seguiu em frente, arrastando-se pelo caminho.

A menininha, quieta no banco, ficou triste. Entendeu que ele preferia o peso às costas vazias.

Comentários

Postagens mais visitadas