BENDITA - final >> Albir José Inácio da Silva

 

(Continuação de 1º de dezembro de 2025)

 

Seis meses após a morte da mãe, Bendita tocava os negócios e administrava a casa, enquanto as três continuavam com seus escândalos, inclusive nas audiências de inventário, e tramavam como se livrar dela.

 

Dalva, a primogênita, foi talvez quem mais maltratou Bendita desde a infância, ruindade pura, implicância gratuita. Mas depois que ela assumiu o controle dos negócios, virou ódio por inveja e impotência.

 

Mais irritada ficava Dalva quando a irmã não respondia aos seus ataques e xingamentos. Bendita a ignorava e só falava o necessário, geralmente para dizer que ela já tinha gastado a mesada e agora só no mês seguinte.

 

O tempo de Bendita mal dava para trabalho e estudo, mas foi no trabalho que ela acabou se apaixonando pelo contador. Tão logo percebeu, Dalva tratou de, com sexo, presentes e promessas, conquistar-lhe o namorado. Bendita engoliu mais esta, sem escândalos ou ameaças, como sempre.

 

Após uma noite barulhenta com o contador no quarto de Dalva, que parecia proposital para humilhar a irmã, os pombinhos entraram no carro ainda sob efeito sabe-se lá de quê, e não perceberam o cheiro de gasolina. O carro explodiu em chamas.

 

Bendita assistiu à tragédia da janela no segundo andar e ligou para os bombeiros.

 

Como as outras, Marlene também dedicou ódio e desprezo a Bendita. Desde a infância gostava de humilhar a irmã. Ridicularizava suas roupas, seu cabelo e sua fala. Mais de uma vez Bendita viu Marlene apontando para ela e rindo com as amigas. Estoica, Benedita a tudo suportava em silêncio.

 

Marlene lamentou a morte de Dalva, mas avaliou que precisava ser muito idiota para morrer daquele jeito. Um carro vazando gasolina, um cigarro aceso ou outra qualquer idiotice de drogado ou bêbado. Bem, pelo menos agora eram só três para dividir a fortuna, comentou com Ângela.

 

Acontece que Marlene não era menos irresponsável que a irmã e, após overdose numa rave que durou 16 horas, foi parar no CTI com um AVC que lhe paralisou parte dos movimentos. As limitações e a dependência, entretanto, não diminuíram a arrogância e o desprezo pelas pessoas a sua volta.

 

Nenhuma profissional, enfermeira ou acompanhante, suportou ocupar-se daquela paciente, apesar das diárias polpudas. Ninguém conseguia domar o seu gênio. E acabou sobrando para Bendita os cuidados com a irmã.

 

Apesar do zelo, que a obrigava a sair do escritório no meio da tarde para administrar os medicamentos, Bendita não conseguiu evitar novas crises e, em menos de dois meses, Marlene faleceu.

 

No velório, Ângela exibia um choro seco e barulhento por causa de Marlene. Ângela tomava tarja preta desde a adolescência, tinha mania de suicídio e mais de uma vez foi parar na emergência para lavagem estomacal por causa da ingestão de comprimidos.

 

Mas, na volta do cemitério, animada e maliciosa, confidenciou para Bendita como se tivesse com ela alguma parceria:

 

- Agora somos só nós duas para dividir a fortuna.

 

Bendita sorriu para Ângela e pensou: “por enquanto!”  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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