SOBREVIVENTES >> JANDER MINESSO
Mães e filhos se vão, mas nós seguimos. Eles nos deixam na calada da noite, enquanto pensamos na noite de Natal ou em apartamentos com três dormitórios. Vão embora em corredores frios de luzes brancas, anunciados pelos lábios de quem já se acostumou às más notícias. Nos deixam aos poucos, gota por gota, enquanto torcemos para que o sangue e as lágrimas ajudem a fechar os cortes.
Eles partem, mas nós continuamos. Durante poucos dias, entendemos o privilégio da própria sobrevivência. À beira do recomeço, sentimos algo além do medo de faltar dinheiro para o aluguel. A vida se expande em desejos e bom senso. Prometemos cuidar da saúde, afinal é nosso bem mais precioso e por que mesmo não deu para ir à academia esse ano? Anotamos tudo numa lista: escrever um livro, plantar uma árvore, parir uma criança. O sol de dezembro aquece os sonhos, lança um facho de esperança de que a próxima vez será melhor, ainda melhor, ou ao menos não tão ruim.
Renascemos no verão, suados, para fora. Rimos feito hienas ou contemplamos com serenidade o novo início, tentando esquecer que um dia não faremos mais parte do grupo. Mesmo assim, a bruxa sempre invade o conto de fadas para lembrar que tudo só está em ordem até que não esteja mais. As luzes sempre se apagam no final. Viver é um ato de teimosia, uma taça fina na beira da pia em plena véspera de um novo ano. Estúpidos ou obstinados, avançamos.
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