QUEM >> Carla Dias
Tudo gritava economia de reter extravagância. A exuberância morava na diplomacia encenada, no tamborilar nos móveis que nunca teve, arrastar mãos em paredes pelas quais jamais permitiria o corpo escorregar, caminhar pelas ruas que nunca se ofereceriam para ocupar cargo de seu endereço residencial.
Era de insinuar reticências, e isso sempre incomodava. A cada respirar demorado, parecia executar uma sinfonia de si, colocando a companhia em modo de espera, voltada para a contemplação do que desejava que fosse visto na sua presença. Todo o resto dormia morno dentro dele.
No fundo, mas bem no fundo do profundo escambau da insanidade, quem era de economizar na satisfação por pura satisfação. Orgulhava-se de controlar caminhos, de surrupiar lealdade de momentos de distração alheios. Deliciava-se ao extirpar a pele de verdades omitidas, deixando-as em carne viva, expostas em uma galeria de clichês que adorava decorar só para poder esquecer, daqui a pouco.
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