EU PRECISO DA ENCOMENDA >> whisner fraga
praticamente vou todos os dias ao correio,
as mesmas atendentes, todas muito prestativas, faz uns três anos que me tratam assim, em breve quatro, mas outro dia saí de lá pensando,
foi durante a greve,
e eu respeito sobremodo esse direito: as quatro estavam lá, acho que não podiam aderir à paralisação, talvez sejam terceirizadas,
mas a central de distribuição não, e estavam retendo um documento que me foi remetido por sedex,
era para estar em minhas mãos uns quatro dias antes, ou mais,
uma funcionária nova me atendeu, a quinta, expliquei o caso, eu queria ver se podia ir até a encomenda, que estava, inclusive, perto de casa,
a resposta foi não,
respirei fundo, porque o direito ao cruzar de braços é sagrado,
daí, no diálogo que estávamos tentando manter, argumentei da urgência, dos prazos vencidos, dos serviços essenciais, mas a resposta continuava sendo não posso fazer nada,
e eu nem pensei em me exaltar, porque preciso continuar mantendo a boa convivência com o pessoal da agência, mas uma das antigas viu a situação e foi acudir,
e esse acudir foi o coro, mesmo: não há o que fazer, são só quatro pessoas na matriz, o balcão sem funcionar, a greve, você sabe,
como eu desejava chorar um pouco mais, sondar novos fundamentos, me lembrei do bom-senso de tratá-la pelo nome,
e, para minha surpresa, eu não sabia, nunca havia me interessado por este detalhe,
e não tive coragem de ler no crachá,
achei mais educado perguntar, mas igualmente envergonhado, porque iam três anos de oi, bom dia, como está, obrigado, e só,
claro que a recíproca devia ser verdadeira,
fulana, não tem jeito, mesmo?, mas o prazo não foi cumprido, mas eu vou lá pegar, eu procuro, mas o remetente pagou horrores para chegar a tempo e não chegou a tempo, mas mas contudo todavia entretanto,
faz o seguinte: abre uma reclamação no site, quem sabe?, me desculpe,
tá bom, obrigado, vou abrir,
voltei para casa e não fiz nada,
quatro dias depois, o pacote chegou.
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