O CRIADOR, A CRIATURA E O CRÍTICO DE ARTE >> MÁRIO BAGGIO
— Criei uma pessoa! — vibrou
o doutor Frankenstein, dando pulos de satisfação.
Havia anos ele brincava de
ser Deus e agora contemplava, eufórico, o resultado de seu esforço. Apresentou
sua criatura num rega-bofe da alta sociedade, concorrido e inesquecível. A
alegria, porém, durou só até a manhã seguinte, quando chegaram os jornais. Lá
estava a opinião do crítico de arte:
“A peça está muito mal
acabada e cheia de defeitos de fabricação. De longe dá para ver as costuras na
pele opaca e sem viço da criatura. Os olhos não têm expressão e os movimentos
do corpo carecem de um mínimo de harmonia. Os pés resultaram grandes demais, as
unhas estão encardidas, os dentes já amarelaram. E a voz, o que era aquilo? O
som dos trovões numa noite de tormenta é muito mais agradável. Não nos
enganemos: trata-se de um trabalho amador, sem dúvida. Um verdadeiro engodo. Espero
que o distinto público não perca tempo com isso. Faltou talento ao criador. E a
criatura, tão desprovida de graça, será logo esquecida.”
Imagem: Pixabay
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