O CRIADOR, A CRIATURA E O CRÍTICO DE ARTE >> MÁRIO BAGGIO

 



— Criei uma pessoa! — vibrou o doutor Frankenstein, dando pulos de satisfação.

 

Havia anos ele brincava de ser Deus e agora contemplava, eufórico, o resultado de seu esforço. Apresentou sua criatura num rega-bofe da alta sociedade, concorrido e inesquecível. A alegria, porém, durou só até a manhã seguinte, quando chegaram os jornais. Lá estava a opinião do crítico de arte:

 

“A peça está muito mal acabada e cheia de defeitos de fabricação. De longe dá para ver as costuras na pele opaca e sem viço da criatura. Os olhos não têm expressão e os movimentos do corpo carecem de um mínimo de harmonia. Os pés resultaram grandes demais, as unhas estão encardidas, os dentes já amarelaram. E a voz, o que era aquilo? O som dos trovões numa noite de tormenta é muito mais agradável. Não nos enganemos: trata-se de um trabalho amador, sem dúvida. Um verdadeiro engodo. Espero que o distinto público não perca tempo com isso. Faltou talento ao criador. E a criatura, tão desprovida de graça, será logo esquecida.”

 

Imagem: Pixabay

 




 

Comentários

Jander Minesso disse…
Se não foi o Régis Tadeu, foi a Patrícia Kogut.
Nadia Coldebella disse…
Que e exercício de escrita interessante! Sem chance de agradar gregos e troianos, né?
Ana Raja disse…
Trabalhou por anos em sua obra. Estava pronta. Era isso. Não tinha como ser diferente. E os críticos? Desenvolvem bem o seu papel.
Zoraya Cesar disse…
Interessante, como nós, que somos todos críticos à nossa maneira, tb podemos agir como o excelentíssimo crítico de arte: nao ver a grandiosidade da obra nem seu significado revolucionário - mas apenas a aparência superficial. Cuidemos de nao nos comportarmos assim em relação às pessoas. Instigante
Albir disse…
É quase regra que a crítica cuide da aparência e não dá essência.

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