TEMPO DE NASCER >> Soraya Jordão


A gestação de um livro muito se assemelha à gestação de um filho, pelo menos no que diz respeito à angústia da espera, à importância do apoio familiar e dos amigos no trilhar dessa árdua empreitada e à responsabilidade de cuidar do fruto até que ganhe o mundo. 

O medo de não estar à altura da função, a ansiedade pelas incertezas do caminho e as noites perdidas de sono também traçam semelhanças. Há desejos e enjoos no decorrer da gravidez em ambos os casos.

Tudo começa na cama da história. Escrever envolve um deixar-se fecundar pelas personagens nos lençóis do tempo. Sem garantias ou certidões, apenas promessas.

A cada capítulo, testemunhamos o crescer da criatura. Pés, pernas, tronco, bracinhos, mãos, nariz, boca, olhos. Pouco importa o sexo. Só desejamos que venha com saúde e fôlego para ser feliz.

Do Ciranda de Mamutes, a mãe sou eu. Quem é o pai? Não sei dizer, nunca se sabe. Todo livro nasce órfão, à espera de um afeto que o adote e embale. Nem sempre o colo acontece. Muitos são condenados a viver na solidão, ainda que tantos outros se aconcheguem na mesma prateleira.

Todo livro é um bebê prematuro, carente de toque, olhar, atenção e cafuné em suas linhas.

Todo leitor é uma família em potencial.

Todo escritor é um espectador.

Toda leitura é um acender de luzes no infinito do universo.



Ciranda de Mamutes

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Comentários

Anônimo disse…
E se não sangrar? Será que só presta se sangrar? São tantas dúvidas nesse tal de processo de escrita, mas ouso colocar mais uma. André Ferrer aqui.
Ana Raja disse…
Quanto amor em suas palavras...amor pela escrita e pelo seu livro lindo que acaba de nascer!
Soraya Jordão disse…
André, penso que nem sempre sangra, às vezes, desagua. E presta!
Soraya Jordão disse…
Tu és a madrinha dessa criança.
Carla Dias disse…
Soraya, que seu filho conquiste o lugar dele nesse mundo. <3
Jander Minesso disse…
Que esse filhote te traga histórias ainda mais incríveis de viver e de contar depois!
Soraya Jordão disse…
Carla, obrigada por fazer tão bem meu pré-natal e segurar na minha mão na hora derradeira.
Zoraya Cesar disse…
que declaração de amor ao ofício, à escrita, ao livro escrito... muito delicada e bonita e acho q representa a muitos escritores!
Albir disse…
Que beleza a sua analogia!
Sucesso pra você e pro filho.
Soraya Jordão disse…
@zoraya, adorei seu comentário.
Soraya Jordão disse…
@albir, obrigada! para todos os nossos filhos.

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