MEMÓRIA - I >> Paulo Meireles Barguil

Ipê rosa


"Houve um dia aqui

uma praça, uma rua, uma esquina, um país

houve crianças e jovens e homens e velhos

um povo feliz."

(Luiz Gonzaga Junior, Memória)


Um computador possui dois tipos de memória: principal e secundária.


A memória principal congrega a ROM e a RAM.


A primeira, sigla de Read Only Memory (memória somente de leitura), aloca informações gravadas pelo fabricante ou usuário, as quais não podem ser apagadas ou modificadas, apenas acessadas. O seu conteúdo permanece inalterado quando o equipamento é desligado.


A segunda, sigla de Random Access Memory (memória de acesso aleatório), possibilita a leitura, a gravação e regravação de dados inseridos. O seu conteúdo é totalmente apagado quando o funcionamento da máquina é interrompido.


A memória secundária armazena informações coletadas quando a máquina está operando, as quais podem ser gravadas, lidas, alteradas e excluídas. Várias são as opções: HD (Hard Disc, disco rígido), mídias ópticas (CDs, DVDs e Blu-Rays), disquete, cartão de memória, pen drive, SSD (Solid State Drive, disco de estado sólido)...


Este texto, apesar da introdução técnica, não é sobre máquinas, mas sobre pessoas.


Há milênios, temos nos dedicado a compreender o funcionamento do Universo e do Homem.


Na maior parte desta jornada, desconhecemos o fato de que as pessoas possuem memória ROM.


As múltiplas correntes da Psicologia defendem perspectivas diferentes, às vezes antagônicas, em relação às influências do passado, e até do presente, na qualidade de vida da pessoa.


Sob a égide da Psicanálise, aprendemos que apenas uma parte do que vivemos, alocada na memória secundária (inconsciente pessoal), é acessada e que os transtornos estão relacionados às lembranças não adequadamente elaboradas.


Jung, por sua vez, propôs que temos um inconsciente coletivo, com conteúdos arquetípicos e impessoais, constituídos ao longo da História da Humanidade.


A Epigenética referenda que temos memória ROM, a qual contempla os registros de várias gerações, e anuncia que eles podem ser modificados.


E mais: que as informações nela contida direcionam não somente a coleta de dados, mas a interpretação deles.


A liberdade, portanto, é uma fantasia colossal: somos não somente condicionados pela condições objetivas do presente, mas principalmente pelo que trazemos de nossos antepassados.


Estou ciente de que, muito provavelmente, este informe não seja agradável para você, mas o compartilho amorosamente, pois acredito que, caso superado o susto e a eventual recusa, ele poderá lhe propiciar perspectivas inusitadas.


[Handroanthus heptaphyllus (Ipê rosa) – Eusébio]

[Foto de minha autoria. 02 de outubro de 2021]

Comentários

Boa analogia! Me lembrou de uma antiga ideia... :)
Zoraya Cesar disse…
Paulo, pra mim, seus textos são cada vez mais prazerosos. Muito bom lembrar q nada somos, tudo somos, resumo de todas as somas. Esse é pra guardar.
Unknown disse…
Muito bom Show de texto!
Jung fala também que a medida da liberdade pessoal é a medida do conhecimento de si, que aquilo que não enfrentamos em nós se repetirá e chamaremos de Destino.
É um texto singelo, porém profundo e que lança sementes pra crônicas futuras.
Vou pensar nisso (se não esquecer).
Gde abraço!

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