MOINHOS >> Fred Fogaça

Uma vez sofrido do bom sofrimento - e ainda tremia na postura uma bravura alheia: as provas da memória impressas nos andadores desiguais, o passo ralo, mal pisado, inseguro como num telhado de cohab: e ele perscrutava, não desistia, pesado, desafiador do limite como um cachorro de rua... tão incômodo à existência.

Amaldiçoa, e morra! Mas não, toda essa teimosia no viver e pra que? Voltar ao lugar do crime, encarar o vestígio da confusão, recalcular as culpas, estabelecer novas hipóteses numa causa perdida. Você precisa deixar ir.

Ao invés, impor às causas, suas próprias consequências, expor-lhes o abuso extensivamente. Como numa vingança de Dom Quixote contra os moinhos, tentar pesar na culpa deles, sua velharia putrefata.

Se doava pela expectativa, só prosseguia  possibilitado por uma auto antropofagia e ia inexistindo pelo caminho, qual o esforço em provar um ponto, tal como um objetivo de vida só que as avessas, mas pra que? Pisar no solo que, quiçá sagrado, e de pronto perecer à uma extravagância indiferente: nenhum um só minuto de empatia passou ali e isso era cruel e até demais pra ele.

Comentários

Sandra Modesto disse…
Adorei a crônica. Gosto de textos pequenos no tamanho, mas enormes no contexto literário.

Postagens mais visitadas