paraísos inexistentes >>> branco
hoje
encontrei um véu
caído na calçada
e minhas mãos ficaram feridas
pelos espinhos que ele escondia
limpei-as com um lenço novo
que logo se maculou
como os sujos panos de guerra
minha cara barbuda
mostra cicatrizes amargas
mas as que ainda doem tanto
são aquelas que só eu não entendo
vi um cordeiro branco
balindo
porque ele sabe
a noite
ela está para chegar
um carpinteiro
construiu uma cruz
na beira de um lago tranquilo
mas meu espírito morto sabia
que ainda deveria andar mais
e encontrar meus demônios
que me cantam
cantigas de ninar
eu vi o reflexo
de um homem
e procurei saber mais
mas antes que o reconhecesse
um espelho partiu-se
em vários pedaços
então
nada a comemorar
sem motivos
para sorrisos
cruzes e cicatrizes
é o meu presente
para você
joelhos dobrados
braços eretos
em direção aos céus
implorando
por paraísos inexistentes
ilustração (lápis em cartolina) por ana betsa
publicado originalmente no livro 7
© 2010 do autor
Comentários
Parabéns amigo👏👏