PIANO >> Whisner Fraga

a menina se cala na beirada.

escora os dedos num rumor de cuidados.

depois um acorde se entranha nas sombras.

a menina acompanha as mãos e se assusta com os movimentos ressoando a música.

a menina para, vasculha as teclas.

uma formiga pisoteia o infinito e não encontra o ninho.

a menina percebe.

a menina reconhece o incalculável e prova um mal-estar.

contempla uma serenidade quase comovente.

a janela é um infinito em um quadro.

o que busca?

a menina apaga a luz e se deita.

Comentários

Sandra Modesto disse…
Lirismo e profundidade. Uma doçura essa menina. E ao mesmo tempo forte. Parabéns!
Carla Dias disse…
Um texto tão delicado e ao mesmo tempo contundente. Que lindeza, Whisner... Que lindeza...
Zoraya Cesar disse…
Whisner, estou ficando sem palavras para, mais que elogiar a beleza extrema e a excelência desses seus textos em volta da 'menina', expressar a ternura e o espanto inefável que eles me causam. Só me resta agradecer.
Albir disse…
Que os dedinhos da menina continuem nos apontando coisas que sem isso não veríamos!

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