PROVOCAÇÕES DA BENQUERENÇA >> Carla Dias >>


Observá-lo tem sido seu fazer constante e desafiador de irritar rotina.

Nele habitam os gestos que furtam seu fôlego. Os olhares que bagunçam sua alma. Aprecia dele a voz, ela que se mostra em ritmo lesto, fazendo palavras se atropelarem com tal graciosidade, vez em quando.

Ele que é agridoce, que nele moram a erudição e o desvario. Nele se agitam sonhos e medos e desejos, às vezes, equivocados.

Sim, desejos sofrem de equivocação.

Quem o sabe, sabe pouco menos do que saberia se o observasse não apenas com os olhos. Não somente por meio do quem aparenta e do quem ele poderia ter sido e não foi.

Não será.

Não que seja tarefa fácil essa de se aprofundar no outro. Nesse aprofundamento é possível se envolver a enlevos e desenganos amplificados.

Ainda assim, tudo nele soa feito agrado. Predicados todos.

Há tempos imaginava como seria o sentimento de apreço por alguém de quem os fantasmas não amedrontassem. De quem não levasse à fuga, em direção contrária aos abismos particulares.

Por quem aceitasse o desafio de permanecer.

Alguém que inspirasse a ousadia de não temer benquerença.

Imagem: Study of Two Dancers © Arthur B. Davies. Fonte: Online Collection of Brooklyn Museum

carladias.com
talhe.blogspot.com

Comentários

branco disse…
que coisa linda !
Carla Dias disse…
Obrigada, Branco! :)
Zoraya Cesar disse…
Carla, como um texto tão mínimo pode ser tão profundo? dessa vez nem frases colhi, foi todo ele uma grande frase a ser guardada naquele livro q um dia vou ajudar vc a lançar. Desejo de afeto! Isso mexe com a cabeça da gente...
Carla Dias disse…
Zoraya, é aquilo que acordar com a palavra no engasgo. Não há como abrir a boca que não seja para verbalizar importâncias. Não há como se render às palavras que não seja por meio de um mergulho.

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