AQUI O CÉU É MAIS AZUL >> Mariana Scherma



Chegar na casa dos meus pais é me blindar do resto do mundo. Pode estar rolando a 3ª Guerra Mundial, que, da porta pra dentro de casa, nenhum problema consegue atingir a gente. As rotinas que acontecem na casa dos meus pais são meio mágicas e acalmam a alma. O cheiros...

Todo dia de manhã, minha mãe passa pelo corredor dando bom dia, abre a porta, com a gata no pé miando. Dali a pouco, meu pai começa a rir porque a gata está rolando pedindo carinho. Todo dia é assim. E todo dia continua sendo mágico do mesmo jeito. Não demora muito vem o cheiro de café, o barulho do rádio e da tevê ao mesmo tempo, a gata miando e meus pais conversando. Todo dia de manhã parece que a casa dos meus pais conta com 50 pessoas. Mas são só três: eles e a gata. Quatro quando eu vou visitar. E o café da manhã conta com meu pai, minha mãe, a gata pedindo requeijão e eu rindo da gata. Todo dia às 7h. Acordar cedo é uma delícia aqui. Se você acorda tarde, perde esse ritual.

O céu aqui de cima da casa dos meus pais é de um azul delicioso e sol parece que dá um aconchego maior. É como se, além de vitamina D, ele fabricasse amor. O amor é muito mais presente aqui dentro. Quem entra na casa dos meus pais se depara com um pé gigante de manjericão que já vai dando as boas-vindas e avisando que o almoço é especial. O manjericão invariavelmente aparece nos pratos da mamis. E o cheiro, ah o cheiro... Pé de manjericão guerreiro. Quase morreu, mamis replantou e agora ele segue firme.

A hora do almoço na casa dos meus pais é dominada por cheiro que restaurante nenhum tem nesse mundo. Se minha mãe optar só por um arroz e feijão basiquinhos, vai por mim: será o melhor que você já comeu na vida. A comida da mamis alimenta o corpo e a alma. Sempre que vou embora, vou mais cheinha, fato. Mas vou mais cheia de vida, de coragem e de aconchego.

Claro que depois de comer, todo mundo dorme aqui. O sono aqui é revigorante. Nunca acordei com insônia na casa dos meus pais. Nunca acordei de madrugada com palpitação ou pensando que vinha um dia ruim pela frente. Aqui a gente dorme em paz, acorda mais em paz ainda.

Se eu preciso pensar em um lugar feliz pra acalmar a mente doida, eu penso nos domingos de manhã de abril na casa dos meus velhos. Não são nem quentes nem gelados, o céu está brilhando e tudo o que eu mais preciso está reunido em um só lugar (principalmente se meu namorado está junto). Meu namorado, inclusive, já disse que consegue dormir tranquilo na casa dos meus pais porque sabe que eu estou feliz. É o meu happy place, sem dúvida.

A rotina e a certeza de que todo dia vai ser mais ou menos igual são deliciosas, são tudo o que eu preciso pra renovar a energia e o coração. A trilha sonora é sempre uma panela no fogão, meu pai vendo Investigação Discovery (todo dia), a gata miando porque eu juro que ela tenta conversar, todo mundo rindo de qualquer coisa aparentemente normal que a gata tenha feito, mas que pra nós tem uma cota grande fator UAU, minha mãe e eu falando sem parar. O sempre igual que é tranquilo como um riozinho seguindo seu curso. Um grande blagh pra quem disse que odeia rotinas.

Toda vez que eu vejo filmes catástrofes e me imagino no roteiro, só peço ao universo pra estar na casa dos meus pais se isso um dia acontecer por aqui. Muito provavelmente a gente escape ileso. A realidade aqui é mágica, não consigo acreditar que mal algum estoure a bola de harmonia em que a gente vive. Aqui vivemos sob o mandato de um presidente que respeita as diferenças, preza pela educação sem religião no meio e jamais incita a violência. Não custa sonhar, né?

Comentários

Zoraya Cesar disse…
Que delicado! Desperta memórias afetivas em todo mundo.

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