SEM HISTÓRIA PARA CONTAR >> Carla Dias >>

Não tenho história para contar. Não vou requentar uma, tampouco sair falando o que vier à cabeça. Até porque o que me vem à cabeça agora: refugiados. Acabei de assistir a uma reportagem sobre os que chegam ao Brasil e em outros países desse mundo, fugindo de uma vida que não é vida. Não consigo parar de pensar sobre pessoas que batem à porta de outras pedindo guarida, e como é importante ajudar. Obviamente, não de qualquer jeito ou se colocando em perigo. Mas por que é tão difícil se organizar, quando a questão é tão óbvia?

Parece que não adianta a questão ser óbvia. É preciso que os interesses de alguns se alinhem à necessidade de muitos. Vejam o amontoado de decisões equivocadas e partidárias que nossos caros políticos andam tomando.

Tá bem... Eu disse que não iria sair falando o que viesse à cabeça. Mas o que fazer quando a cabeça é sala de estar para tantos pensamentos em ebulição? Até tentei escrever um poema, mas saiu outra coisa. Melhor deixar a poesia pra depois.

Só que não tenho algo específico a dizer, até porque hoje estou particularmente desapontada com o meu ser humano. Eu tenho uma lista de coisas a fazer, durante as férias, e não cheguei nem mesmo ao item três, de uma longa lista, considerando que o item dois é o tradicional check-up. As férias já estão acabando e não vejo meio de ticar esses itens todos. Além do mais, ando meio miss na lista, pedindo coisas bem loucas, como a paz mundial.

Um amigo sugeriu que eu escrevesse sobre ele e mais dois amigos correndo no parque, enquanto eu faço a minha caminhada na sala de casa. Eu declinei, alegando que, morrendo de inveja, eu acabaria escrevendo um manifesto sobre eu não estar lá com eles.

Meu dia rendeu tão pouco, que parece que ele nem me aconteceu. Com telejornal de trilha sonora – eu vinha evitando telejornais há meses, mas durante as férias, não sei o que me acontece, eu me rendo a eles. Enfim, com telejornal de trilha sonora, rabisquei umas coisas, toquei outras, mas nenhuma eu finalizei. Nada de ticar mais um item da lista. Para piorar, fui incluindo mais e mais itens nela, entre eles:


  • Mergulhar e socializar com uma baleia. Eu vi essa reportagem sobre uma mulher que nadou com uma, que ainda a empurrou para que um tubarão não chegasse a ela. O problema é que não sei nadar, a ideia de mergulhar me deixa sem ar. E a baleia? Linda, mas... E o tubarão? Lindo, mas... 
  • Assistir ao A Forma da Água, de Guillermo del Toro, no cinema. Bom, não sei quando irei – acredito que estreará amanhã -, mas me bateu uma nostalgia e tive de assistir, pela não sei qual vez, O Labirinto do Fauno.


Ocorre-me agora essa coisa do Guillermo com monstros. Ele disse, certa vez, que quando era menino, tudo nele era estranho. Foi assim que ele se identificou com os monstros e que os incluiu de forma crucial em sua vida. Eu gosto dos monstros do Del Toro como gosto dos anjos de Wim Wenders. Para mim, eles fazem poesia cinematográfica com esses personagens.

Ok, voltando à lista:


  • Aprender um novo idioma, o holandês. O ritmo que essa língua tem me soa fascinante, mas estou longe de saber uma única palavra. Continuo achando o som interessante.
  • Aperfeiçoar a minha habilidade em deixar pra lá. Porém, se eu for me apegar ao horóscopo, não vai rolar. 
  • Sair para dançar, mas música de mil, novecentos e só Deus sabe. Sim, sou vintage.


A questão com as listas é que, a partir de determinado ponto, enlouquecemos. Minha lista se tornou algo surreal, e o pior é que, quanto mais surreal, mais ela me agrada. Isso não muda o fato de que hoje não tenho história para contar, nem impede que meus pensamentos mergulhem no sobre como seria meu monstro, se eu decidisse criar um para uma possível história.

Guillermo del Toro me inquieta.

Para justificar minha passagem por aqui, vou contar o último item da minha lista:


  • Dormir muitas horas seguidas.


Eu sei que para alguns é item fácil de ticar. Na minha lista, mergulhar com a baleia e evitar o tubarão me parece mais provável.

Boa noite.

carladias.com

Comentários

Zoraya Cesar disse…
Impressionante Carla Dias! Até quando diz que não tem o que dizer, diz muito. E lindamente, como sempre!
E vamos às baleias!
Carla Dias disse…
Zoraya... Sim! Vamos às baleias!
Beijo.

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