QUANDO NÃO SE É BEM-VINDO >> Mariana Scherma

A gente só visita a casa de quem nos chama, não é? E é bom visitar, levar um pouco de amor, um bolo quentinho, um abraço. Na volta, a gente vem sempre cheio de lembranças. Preguiça de sair de casa sempre há, mas escapar uns dias da nossa bolha pessoal faz bem. Claro que tem as visitas que fazem a gente querer colocar a vassoura atrás da porta (isso funciona?), mas shit happens, ué.

Viajar é exatamente a mesma coisa. O planejamento, a pesquisa de locais pra conhecer, de pratos para experimentar... Qualquer viagem é sair um pouco da bolha da sua vida e voltar transformado em algum sentido. Nem precisa ser uma viagem a Paris. Ir para uma cidade aí do nosso próprio estado já está valendo. Claro que a gente volta com a sensação melhor ainda quando os nativos nos recepcionam com amizade e educação.

Sim, agora vou falar de Donald Trump. Pessoalmente, minha regra de viagem é: conhecer países que aceitem nossa entrada sem visto, sem ter que pagar pra ser bem-vinda. Por isso, nunca fui aos Estados Unidos. Sei que as pessoas falam da modernidade de lá, dos hambúrgueres, de Nova York, do paraíso de compras em Orlando, mas não, obrigada. Eu fico com a Ponte Carlos em Praga, o resto do muro de Berlim (que mostra tão bem que erguer muros para separar pessoas não dá certo), a Cartagena de García Márquez, o Coliseu... Tem um mundo pra ser visto que vai além da turma do Mickey.

Ir a outro país é deixar de ser tão você e absorver novas culturas. Os países também absorvem a cultura de seus visitantes. E a riqueza está nessa troca. A gente nunca vai ser uma ilha. Ou por que raios a comida mexicana é tão presente no hábito dos estadunidenses? Ah, claro, e os prédios maravilhosos que todo mundo visita em Nova York foram construídos apenas pelo povo do país? Vai nessa.


Trump e seus parças andam dizendo que visitar os Estados Unidos não é direito, é privilégio. Eu dispenso esse privilégio. Sei bem onde sou bem-quista e é pra lá que quero ir. Enquanto, isso, assisto curiosa ao encaminhamento desse governante midiático em um sentido estranho, aparecer e polemizar nunca é demais pra ele. Vê-lo em aparições de Sex And The City, Esqueceram De Mim e reality shows é uma coisa. Vê-lo colocando sua ordem em um país é outra. E é estranho, repito. Até porque o estadunidense comum já vive ensimesmado em sua bolha e sua história, mas o mundo é tão grande...

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