CRIANÇAS SENDO CRIANÇAS >> Clara Braga

Já tem um tempo, comprei um livro encantador chamado Casa das Estrelas, aquele que as crianças definem diversas palavras da forma como as entendem. Algumas definições são mais explicativas do que o próprio dicionário, me lembrou muito aquele livro Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento, da Adriana Falcão, tão encantador quanto, imagino que seja porque a Adriana tem esse lado criança ainda muito aflorado, coisa que a gente infelizmente vai perdendo e ainda acha comum que seja assim.

Já mais recentemente, vi um vídeo de uma campanha lançada pela Noémi, uma associação para pessoas com deficiências múltiplas, que convidava pais e filhos para um experimento. Eles entram em uma sala e ficam separados por um tapume enquanto assistem vídeos de pessoas fazendo caretas. Conforme as pessoas fazem as caretas nos vídeos, a família tem que imitar a careta que estão vendo. Em certo momento, uma garota com deficiência múltipla aparece fazendo uma careta, os adultos imediatamente param de imitar, enquanto as crianças continuam se divertindo com a brincadeira como se nada tivesse acontecido. Então, a associação conclui e convida a todos a olharem para o mundo com os olhos de uma criança. É uma campanha muito delicada, muito bonita, e que faz a gente repensar algumas posturas, vale a pena ver o vídeo.

Alguns dias depois de ver o vídeo dessa campanha, li um texto sobre o garoto que foi contar para o irmão mais novo, contra a vontade dos pais, que ele era gay. Os adultos ficavam receosos da confusão que essa informação poderia causar na cabeça da criança, mas a surpresa foi do lado contrário, quando perguntou ao irmão: você sabe o nome que se dá para pessoas que gostam de pessoas do mesmo sexo? a resposta foi direta e reta: amor!

Poderia seguir com uma lista gigante de vídeos, textos, livros e relatos interessantes que envolvem crianças. Tem a palestra maravilhosa do menino que decidiu estudar na vida e parar de ir para a escola, da menina que dá uma lição de moral sobre a beleza dos cabelos crespos, o experimento que pede que crianças corram como meninas e elas seguem correndo do mesmo jeito, sem clichês, e assim por diante. O que essas crianças tem em comum é uma certa ingenuidade, mas não essa ingenuidade que a gente conhece. A gente fala de ingenuidade como algo pejorativo, mas é isso que faz com que as crianças consigam olhar o mundo sem preconceitos e pré-conceitos. 

Na verdade, o que me pergunto é porque a gente insiste que ainda tem tanto para ensinar para as crianças e não se abre mais para aprender com elas?

Comentários

Paulo Barguil disse…
Obrigado, Clara, pelo seu olhar sensível.
Aos interessados, segue o link com o vídeo da Noémi Association: http://www.hypeness.com.br/2015/01/video-tocante-mostra-a-deficiencia-fisica-vista-pelos-olhos-das-criancas/

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