SOBRE LIVRE >> Mariana Scherma

Alguns livros nos levam para outra dimensão, pra qualquer outro lugar no mundo que conhecemos ou de outro mundo que adoraríamos conhecer e deixam a gente meio longe da realidade. E isso tem seu valor. Ôh se tem. Com Livre, de Cheryl Strayed, não foi bem assim... Ele me levou pra dentro de mim mesma, fiquei mais atenta à minha realidade, mais grata às pessoas da minha família e tive certeza de que problemas não se curam com milagres, mas com um passo de cada vez.

Eu comprei o livro e comecei a lê-lo ferozmente, queria terminar antes de ver o filme nas telonas. Quando vi o trailer com a atriz Reese Whitherspoon, sabia que se tratava dessas histórias que mexem fundo com a nossa concepção de mundo. Spoilers à parte, a história fala da experiência de Cheryl, que ao perder a mãe, perde o sentido da vida e começa a se prejudicar de várias formas, incluindo o fim de um casamento aparentemente feliz e o uso de heroína.

No fundo do poço, ela decide, sem nenhuma experiência em trilhas e pouca vivência de mundo selvagem, caminhar pela PCT, a Pacific Crest Trail, da Califórnia à divisa do Oregon com Washington. A ideia original era usar esse tempo pra colocar a cabeça no lugar e pensar nos erros cometidos. Cheryl, no entanto, usa apenas a cabeça para sobreviver,a jornada é dura, dolorida e cheia de fome. O que me marcou é que, quanto menos ela consegue pensar nos problemas, mais ela sente que os supera. A dor física é tamanha que ela se sente grata por coisas pequenas, como molhar os pés machucados em um riacho, tomar uma garrafa de água purificada ou uma limonada depois de dias e dias sonhando com esta.

Livre me fez mergulhar dentro de mim mesma, ao contrário de outros livros que fazem a gente sair da realidade. Eu, de repente, me senti grata à roupa limpa e cheirando amaciante (Cheryl fica semanas com a mesma camiseta), me senti sortuda por me jogar na cama grande e limpinha, sem ter que toda noite arrumar a barraca e, acima de tudo, me fez perceber que estar sozinha é bom, sim. Gostar da própria companhia é pra poucos. Saber que você só é suficiente pra uma temporada ou talvez uma vida é algo grande. E isso também tem um valor inestimável. Terminei de ler e sei que não volto a ser mais a mesma que começou este livro e esse é o poder mais sensacional de uma história: ela nos transforma, desde que você se permita mudanças.

P.S.: o livro tem vários trechos memoráveis, mas vou deixar esse pra vocês, que mexeu comigo: “o medo, de certa forma, nasce da história que contamos a nós mesmos, portanto escolhi contar uma história diferente da história a que as mulheres estão acostumadas. Decidi que estava segura. Que era corajosa. Que nada podia me vencer”. 

Comentários

sergio geia disse…
Tocou fundo. Li mais de uma vez a sua crônica. Comungo de suas ideias. Adoro sua forma de escrever. Acompanho suas postagens. Sempre. Vou comprar o livro. Gde abraço!

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