RUMINAÇÃO SOBRE O QUE TODOS SABEM
>> Carla Dias >>

Que o mundo anda menor do que nunca, já sabemos. Os links ao vivo nos telejornais, quando lá é dia e aqui é noite. Quando lá neva e aqui é aquele sol na moleira. Anda menor ao visitarmos os amigos em Paris do centro da nossa sala de estar. E se antes não conhecíamos a família toda, porque muitos são de outras cidades, agora é possível.

Não somente na comunicação a tecnologia tem nos oferecido mais do que imaginaríamos há um par de décadas. Em todos os setores ela faz a sua mágica. A medicina tem se beneficiado muito das ferramentas tecnológicas. Em todos os setores, ela faz diferença na construção de um negócio vindouro.

A grande questão é que por trás da tecnologia estão as pessoas. No caso delas, as perguntas parecem mais simples quando se busca o entendimento com sua essência. Na tecnologia, o conhecimento conduz ao resultado. Na humanidade, mergulha-se em um mar de complexidades.

As questões sobre o ser humano soam simples, mas não o são. Lembro-me de um amigo que chegava a um grupo de pessoas e perguntava para um deles “você é feliz?”. Imediatamente, todos começavam a rir, achando que ele estava fazendo algum tipo de brincadeira. A pueril pergunta, porém, ele deixava em aberto. Raramente alguém lhe respondia, e quando o faziam, era com outra pergunta: como não? Pra que isso? Ah, existe felicidade? Ah, quem não é?

Esgueirarmo-nos de perguntas desconfortáveis se tornou uma arte. Preferimos as que nos levam a defender ponto de vista, que essa é uma batalha que não se perde, já que se trata do meu e do seu ponto de vista. Desdobramo-nos para colocar nosso desafiador a par do que esse ponto de vista representa. Às vezes, nós extrapolamos, e tentamos enfiar o nosso ponto de vista goela abaixo do outro.

Já engoli muitos pontos de vista, eu confesso. Há quem seja realmente talentoso em fazer o outro se engasgar com suas veracidades. Porém, quando se concorda com o ponto de vista alheio, abandoná-lo é fácil, não dói. Quando se compreende que ao não concordarmos com o ponto de vista alheio não significa que estejamos mais certos ou mais errados que o outro, alimenta-se o respeito mútuo.

Mas voltando à tecnologia, e aos benefícios que ela nos oferece, porque nunca foi tão fácil nos conectarmos a outro ser humano, apresentar ao mundo nossas ideias e projetos, descobrir o mundo por meio de ideias e projetos de outras pessoas.

O que a tecnologia não consegue nos ensinar é que ela, por si só, não muda o que seja. O material humano se mantém essencial. A escola ainda é o cenário das nossas descobertas, seja com computadores ou lousa verde.

Outro dia, conversando com uma menina que considero inteligente e que tem facilidade em compreender assuntos complexos, ela me contou que fizera prova no dia anterior. Eu perguntei de qual matéria, e ela respondeu que não sabia se de Língua Portuguesa ou Filosofia. “Como assim?” foi a minha pergunta, e somente depois de tantas outras, percebi que ela analisara um texto e respondera algumas questões a respeito dele. Ela não teve de redigir as respostas, apenas assinalar as questões que julgava corretas. No final da conversa, nem ela, tampouco eu sabíamos, dizer prova de qual matéria ela tinha feito.

A tecnologia faz parte da nossa realidade. Porém, não se permita enganar, porque há muitas pessoas que sequer ouviram falar sobre água encanada, tampouco sobre e-mail, redes, sociais e aplicativos.

Conhecimento adquirido envolve mais, muito mais do que ler as mensagens ofensivas espalhadas pela internet, e ainda colaborar com a disseminação delas. Às vezes, melhor é dar um passo para trás, o que nos permite observar com critério o que realmente importa. E uma dessas importâncias é que a tecnologia é realmente uma ferramenta poderosa, que depende da nossa sensibilidade e real conhecimento para funcionar em nosso benefício. Porém, ela é somente uma ferramenta. As pessoas são as responsáveis pelos resultados oriundos de sua utilização.

Fiquei pensando no tipo de educação que, em minha opinião, seria adequado para tempos de tecnologia impregnando nossa realidade. Professores qualificados, sendo remunerados adequadamente, comprometidos com alunos que conduzirão seus estudos tendo o mundo na sala de casa. Como escutei dizer por aí, nada reconhecer uma pessoa pelo seu ofício para inspirar outra pessoa a seguir o mesmo caminho, ainda que o mundo, na sua sagacidade, mude a cada instante. Ainda que nós, humanos que somos, mudemos a cada experiência.

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