RETROSPECTIVA 2025 >> Albir José Inácio da Silva
2025 está distante de ser o melhor dos mundos, mas temos de
admitir que viemos de muito mais longe e de muito mais fundo.
Neste ano saímos novamente do mapa da fome para onde tínhamos
retornado em 2021. É um alívio não assistir nos noticiários as filas de ossos
em que humanos disputam carcaças para se alimentar. É bom não encontrar estatísticas
dos milhares de atestados de óbito por inanição. É melhor ainda para quem ficou vivo por um
triz.
A desigualdade estrutural continuará envergonhando o país no
ranking mundial enquanto entendermos que a maldição para muitos e a bênção para
poucos é uma questão de mérito. Mas houve algum refrigério neste ano com a
recomposição salarial e o recuo do desemprego aos menores índices históricos.
Com relação à saúde, o programa nacional de imunizações, tão
elogiado no mundo inteiro, quase foi extinto pelo negacionismo que tentou
desacreditar as vacinas e substituí-las por vermífugos e antimaláricos. O fiel
ainda tinha no cardápio contra a covid, por apenas mil reais, os grãos de
feijão milagrosos de um reverendo.
Felizmente as pessoas estão reaprendendo a confiar nos
imunizantes e vão se lembrar de que chegamos a morrer à razão de quatro mil por
dia antes da vacina.
O parlamento aprovou coisas importantes para o país, durante
este ano, que permitiram a retomada do crescimento e o resgate de programas
imprescindíveis para a população. Mas ainda chafurda nas negociatas e aposta na
terra arrasada para tirar proveito eleitoral e financeiro das emendas secretas.
Emendas em que se esconde da população o destino dos seus impostos.
A maior conquista da democracia brasileira em 2025 foi, sem
dúvida, a punição aos golpistas. Essa dívida histórica foi resgatada com atraso
de 60 anos porque a impunidade com que foram tratados os golpistas de 64 incentivou
novos ataques às instituições da República por seus sucessores.
Verdade que faltam competência e dignidade aos golpistas. Não
conseguem dar golpe e depois não conseguem assumir suas responsabilidades. Às
vezes estão suplicando saidinhas, prisões humanitárias e outros benefícios
penitenciários.
Outras vezes estão se esgueirando pelas fronteiras e
destruindo tornozeleiras para escapar do castigo da lei. Mas não deixam de ser
perigosos. Mesmo quando rendidos e rastejantes, aguardam o momento oportuno para
o bote na democracia.
Importante destacar que, até entre os golpistas condenados, o
jeitinho brasileiro consagra a desigualdade. Enquanto os líderes, planejadores
e beneficiários do golpe ficam presos com ar-condicionado, geladeira e
televisão, os subordinados, submissos e ordinários ficam amontoados nas
masmorras do sistema penitenciário brasileiro.
Importante também lembrar que agora são todos defensores dos
direitos humanos. Principalmente nas cadeias.
Mesmo que, com a prisão dos golpistas, a estética neofascista
esteja fora de moda - com seus bonés, camisetas e discursos de exaltação a
torturador - Brilhante Ustra ainda vive nos corações fascistas. Seu espírito
ainda move milhões a partir de parlamentos e púlpitos, que deveriam pregar
democracia e amor cristão.
Lembremo-nos de que, sim, são trapalhões e incompetentes os
golpistas, mas isso não os torna menos perigosos. Basta ver seus planos de
assassinatos - punhal verde-amarelo, basta olhar seus heróis torturadores,
basta ouvir seus elogios à barbárie. Mas neste ano fizemos o dever de casa.
Apesar de tudo, aumenta a fé. O Datafolha de ontem apontou
crescimento no nível de esperança dos brasileiros que chega a 70%. Agarremo-nos
à esperança!
Feliz ano novo!


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