ATÉ ONDE DER << SORAYA JORDÃO


 

Essa semana decidi cortar o açúcar da minha vida. Inicialmente, jurei nunca mais cair nos encantos desse maldito. Deixei fluir a mágoa, fruto de toda decepção, e passei a hidratar o ranço, pensando em coisas do tipo:

— Poxa, eu sempre te elogio, não meço esforços para estar contigo e você tem a coragem de me engordar e inflamar? Que ingratidão!

Esse exercício de conscientização me ajudou a vencer as primeiras 24 horas. Mas, se eu me distraio um minuto, já surgem uns pensamentos que me fazem avaliar a situação a partir da ótica do safado, o que me leva a justificar os seus erros, perdoá-lo por tudo, e, pior, ainda me sentir ingrata por não dar valor ao prazer que ele me traz. 

Eu sei que, se conto da nossa relação para os outros, eles não são capazes de entender a magia do nosso encontro. Talvez não o conheçam direito ou não consigam perceber tudo o que vivemos. O conselho é sempre o mesmo:

— Se afasta, ele não te faz bem. Ou: — O que você viu nele? 

Não tenho uma resposta pronta, mas posso garantir que, quando saboreio um bolinho no café da tarde ou um brigadeiro assistindo à novela das nove, a vida me sorri de um jeito único. Um fofura do existir se apodera do ambiente, uma animação ingênua me abraça. Pareço uma criança que segura seu algodão-doce no parque de diversões. 

A verdade é que nem me separei direito e já sinto saudades. Tudo bem que ele não tem como me ligar ou mandar mensagem, mas o espertinho se coloca no meu caminho. Agora mesmo, fui na cozinha e um biscoito goiabinha estava em cima da mesa, me sorrindo. Virei a cara, óbvio. Fingi desprezo. Mas o infeliz sabe como me seduzir. 

Nem posso desabafar com as amigas sobre meu desassossego, senão, lá vem horas de palestra sobre amor-próprio. Aceito o que dizem, mas no fundo discordo. Não é sobre amá-lo mais do que a mim mesma. O que me pega é o amor que tenho pelo prazer que ele, o doce, me dá. Mas tudo bem. É hora de entender que alguns prazeres cobram um preço tão alto que é melhor não pagar. 

Não é porque eu o adoro que ele me fará bem. Então, melhor deixar pra lá e tocar o barco. Talvez não por toda a vida, mas por um tempo. Talvez seja melhor pensar um dia de cada vez. Talvez eu deva buscar outros prazeres, quem sabe?

Mas, verdade seja dita, com ele a vida é muito mais doce. Desculpa, já me arrependi de fraquejar. Vou seguir firme.

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