DÁ UM ALENTO >> Carla Dias


Crônicas sobre não ter o que escrever acontecem, feito corte no dedo com papel sulfite. Veja, eu não faço ideia de onde vou parar com este texto, mas sei que chegarei lá. 

Dá um alento, sabe? 

E me faz lembrar de quando descobri o significado da palavra “alento” — ela tem esse toque poético que encanta até os que odeiam poesia. Aliás, vocês conhecem alguém que odeie poesia? Eu conheço... e que não escute música, não goste de queijo, não aguente nem o cheiro (perfume, né?) de café.

Eu conheço.

Acho que tenho sorte. Conheço pessoas extraordinárias, que me encantam e desafiam ao mesmo tempo — o que, acredito, seja o tempero dos relacionamentos. E sei — mesmo quando pareço não compreender o motivo — que, vez em quando, faço o mesmo com elas. 

Também me desaponto profundo com quem nem conheço. Daí vem a tristeza que me leva a confabular com um pote de iogurte zero (tentando ser saudável; nem sempre dá certo) e maratonar série de terror, porque o gênero bota-medo ajuda a me desprender de toda melancolia provocada pela constatação de que viver é dureza... Mas também é lindeza, né? E que isso me confunde torto, de vez em quando, trazendo a agitação dos que não entendem, apesar de se esforçarem para compreender tal verdade, como o ser humano pode ser tão desumano.

Eu não tenho vocabulário requintado para discorrer sobre as nuances da psicologia, da teologia, das artes, da história do mundo. Mas gosto de pensar que na, minha insignificância, mora uma capacidade corajosa de tentar. E tentativas têm me ensinado muito. Na verdade, elas me empurram para a vida. Tento e dá errado, depois dá certo. Então, me demoro nas que me encantam dilatado, sabe? Até entender se é tentativa ou insistência; oportunidade ou infortúnio. Se devo continuar insistindo ou desistir. 

Às vezes, desistir é catarse necessária.

Enquanto escrevo, escuto Nina Simone cantar Feeling Good, o que é... uau! Tenho uma playlist de versões de algumas das músicas das quais mais gosto — minha Crazy Playlist. Nela, nove pessoas, entre elas Nina, desfilam as versões da mesma música. 

Adoro versões de músicas que vivem na trilha sonora da minha existência. É como encontrar uma pessoa pela primeira vez e, sem descartar a história dela — a que acabou de contar — conhecê-la em diversas camadas. Diversas versões que formam a original.

Gosto quando as pessoas me permitem conhecê-las assim. E vide o verso do poema disléxico redigido durante uma dose de café durante uma conversa sobre sobre feeling (ou não feeling) good

Dá um alento.

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