GNOCCHI >> JANDER MINESSO
Olá, entusiastas de um bom prato ruim. Hoje, faremos a crítica da última moda gastronômica de São Paulo: o Feci.
O novo ristorante mais badalado de todos os tempos oferece comida esquecível para a farta e orgulhosa descendência italiana residente na capital paulista. São seis unidades espalhadas pela cidade, todas com o mesmo ambiente: uma mistura de trattoria da Toscana com catálago da Tok&Stok, tudo batido no liquidificador até virar uma massa homogênea.
O cardápio é um espetáculo à parte. Da entrada à sobremesa, todos os pratos levam nomes típicos para dar um clima. A Sardella a Da Vinci é como a Mona Lisa: feita para ser vista e não comida. Outro sucesso é a Calabresa Ndranghetina, que pode ou não vir envenenada — escolha perfeita para aqueles que acham engraçado falar que a família é mafiosa. Temos também a Caponata a Benito, a Meloni All'arrabiata e o Gnocchi di Nero (flambado), todos com sabores e texturas deveras requentados (sic). É provável que qualquer italiano queira atear fogo no restaurante depois de provar o supracitado gnocchi flambé.
Mas se a comida parece de fast food, o serviço é algo a se degustar sem pressa. Os garçons do Feci recebem dois mil reais mensais, mais gorjetas. Dentre suas atribuições, destacamos a necessidade de usar um uniforme mezzo carabinieri, mezzo roupa de dançar tarantela. Não bastasse o constrangimento de trabalharem uniformizados em regime seis por um (polêmica), eles ainda têm que falar buonasera quando a gente chega e arrivederci quando a gente vai embora. As coisas que um ser humano precisa fazer quando tem boletos.
Claro que nada disso seria possível sem uma divulgação maciça. Taças de vinho em punho, os influenciadores digitais se espalham pelas mesas do Feci feito uma praga de filoxera. Alguns chegam sozinhos, outros acompanhados de videomakers, maquiadores e assistentes mil, todos famintos. Não só comem sem pagar como ainda cobram pela divulgação. E é assim que você descobre, enquanto passeia pelo Instagram, que São Paulo é cheia de lugares maravilhosos e que você pre-ci-sa conhecer.
Com seu equilíbrio delicado de clichês, o Feci é um prato cheio para quem busca experimentar o conceito de “não vale o preço.” Desaconselho a visita, mas tem um boteco na frente da unidade Haddock Lobo com cerveja barata e mesa na calçada. Vale o espetáculo.
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