O ESPELHO DE CONCEIÇÃO >> CRISTIANA MOURA

Na solidão, dor, inadequação a menina queria mesmo era alguém igual a ela. Seu nome era Conceição e, noite e dia, imersa e perdida em si mesma, ,sonhava com uma outra Conceição. quase foi real. Quase completamente igual. Ceiça veio ao mundo e partiu.

E a menina alimentava fantasias ou certezas, quem sabe, de que a irmã, ao revés da história que lhe fora contada, estaria viva em algum lugar. Conceição, defronte ao espelho, conversava com a própria imagem como se falasse com a outra: — Talvez você tenha sido roubada ou trocada na maternidade. Você deve viver do outro lado do oceano, deve ser criada por outros pais, ter um outro nome e falar francês.

Enfim, haviam vivido juntas por nove meses, quase que misturadas uma a outra, no mesmo líquido, de uma mesma gestação se pariram. Acreditando que era uma só pessoa pequena, se descobriram duas. Que dor a desta criança! Foi como se tivessem lhe amputado um membro. Foi como se tivessem lhe amputado um pedaço da alma.

E continuava a conversa: —Um dia eu vou encontrar você. Se a Emília diz pirlimpimpim e viaja para um universo paralelo eu também posso! Pirlimpimpim, pirlimpimpim, pirlimpimpim! Repetiu de olhos cerrados com força.

Que susto! Olharam-se de olhos arregalados e, sem mesmo deixar o ar sair do corpo numa necessária expiração. A menina mal respirava com medo de que a imagem que via fosse um sonho. — É verdade! Você tá na minha frente! Fala alguma coisa! Fala! 

Conceição, sem esvaziar os pulmões do ar, mantinha os olhos arregalados e o silêncio parecia rasgar seus tímpanos e sua garganta. Ela perdera a voz. Pensou: Quero gritar! Ahhhh! o som não saía. Piscou os olhos.  Viu, novamente sua imagem refletida no espelho. Olhou para os lados sem nenhum vislumbre de compreensão do que havia acontecido.

— Conceição, Bárbara, almoçar! Gritava a mãe. Bárbara era sua irmã mais nova.

Sentaram-se a mesa e almoçaram em silêncio.