A HISTÓRIA DE UM DESCUIDO >> SORAYA JORDÃO


 

Quando teus dedos tocaram a superfície do meu corpo, despertei da escuridão do silêncio.

Deixei-me abrir como quem pula do penhasco na busca de abraçar a leveza do fim, sem freios.

Entrega e espera. História e vazio. Início e fim. 

Almejei um lugar na tua rotina, um pouso no teu colo, um espaço no teu dia. 

Desejei meu nome em teus lábios, meu corpo nas tuas digitais.

Não há ousadia maior que habitar o ser amado. 

Delirei a eternidade, não um lugar empoeirado em tua estante. 

Todo livro arde a ânsia de ser possuído. 

Abre-me, Sésamo.

Não me condenes a mofar no cárcere de uma bela capa, na prateleira decorada de tua existência. 

Abre-me, Sésamo! 

Leia meus segredos, rancores, amores e silêncios. 

Empresta-me. Doa-me.

Deixa-me viver na pulsação dos teus cílios. 

Só não me consagres ao teu letal desinteresse.

Comentários

Jander Minesso disse…
Um texto tesudo, sem dúvida. Deu até vontade de desempoeirar aquele Crime e Castigo que comecei 738 vezes e nunca terminei.
Soraya Jordão disse…
@Jander, ri alto. Adorei o cometário.
Ana Raja disse…
Quanta poesia! Belíssimo texto. O seu livro será lido com esse encanto.

Soraya Jordão disse…
@Ana, minha amiga queridaaaaaaa, tomara!
Anônimo disse…
Apesar dos avanços, o livro ainda carrega a humanidade nas costas. André Ferrer aqui.
sergio geia disse…
Que delícia, Soraya. Adoro essa pegada de dar (enfatizar) vida e voz a um objeto. Como não lembrar de 'O caderno"? (que também adoro, diga-se).
Albir disse…
Sim, também lembrei d'O Caderno: "Não me esqueça num canto qualquer."

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