ESPERANDO O ÚLTIMO EPISÓDIO >> Clara Braga

Lá estávamos nós tentando comemorar nosso aniversário de casamento/namoro/todas as datas que comemoramos no mesmo dia para não ter problema de esquecer. Sentamos em um café que gostamos muito e jurávamos que estávamos em uma das mesas mais tranquilas do estabelecimento.

Ainda enquanto olhávamos o cardápio, a moça na mesa de trás recebia um homem que se desculpava por ter chegado atrasado. Como eu sei disso? A voz do homem era bem grossa e bem alta. Começaram a conversar e nós ficamos curtindo nosso raro momento a dois. O problema era que toda vez que o homem ia falar, todas as mesas ao redor pareciam ser obrigadas a participar da conversa. E para melhorar, ele tentava convencer a moça a não terminar o relacionamento com seu amigo.

A moça, por sua vez, falava baixo e, no início, não estávamos escutando o que ela dizia. Conforme o tempo foi passando ela foi se alterando e começou a falar alto, afirmando que estava decidida e que nada que ele falasse iria fazê-la mudar de ideia, pois estava certa de que havia sido traída.

Nessa altura do campeonato o café da manhã virou uma novela mexicana da qual iríamos fazer parte mesmo que não quiséssemos. E pode ser impressão minha, mas observei que as pessoas das outras mesas também ficaram cada vez mais caladas, como se tivessem percebido que, já que não havia escolha, o melhor era prestar logo atenção na conversa inteira.

O diálogo dos dois durou tempo suficiente para entendermos que o namorado da mulher havia tido uma aparente reunião de trabalho com portas trancadas com uma mulher que fazia parte de seu passado. Ao mesmo tempo que o homem tentava convencer a mulher de que ela não podia afirmar que algo tinha acontecido pois ela não estava lá, ele também só afirmava que nada tinha acontecido por convicção, pois também não estava lá.

A conversa foi se alongando e quanto mais eles falavam, mais altas suas vozes iam ficando e mais impressionados nós ficávamos com as informações. Ela já havia sido casada, tinha dois filhos, o atual quase ex namorado sabia que ela havia sido traída e, por isso, não toleraria atitudes desse tipo novamente. O homem afirmava que o amigo a amava e que nada grave havia acontecido, as mulheres do trabalho faziam parte do passado e ela precisava levar em consideração que um novo rompimento abalaria as crianças, decisões não devem ser tomadas de cabeça quente.

Quem ouvia já estava se sentindo em um episódio de Você Decide e perguntando pro garçom os números do telefone para votar “sim” ou “não” para o fim do relacionamento. Na minha cabeça ecoava a voz do Tony Ramos: será que ela irá mesmo terminar com fulano? Porque ela estaria conversando com um amigo do namorado se não tivesse dúvidas sobre sua atitude? Será que o amigo daria com a língua nos dentes e contaria sobre essa conversa antes mesmo que a moça pudesse terminar o relacionamento?

Para saber tudo isso vote no seu final predileto, pois aqui o final Você Decide!

Fomos todos embora quase na mesma hora e de vez em quando eu e meu marido lembramos desse episódio especulando o que deve ter acontecido.

Por isso hoje eu venho aqui pedir a você, pessoa que costuma contar toda sua vida em alto e bom som em cafés pela rua, quando for deixar um assunto inacabado marca um outro dia para a gente se encontrar de novo no café e ouvir o fim da história. Eu sou de uma geração que já sofreu demais com a falta do último episódio de A Caverna do Dragão, não posso lidar com isso e com o fato de não saber o que aconteceu depois que a moça foi buscar o Guilherme na escola!


Essa crônica faz parte do projeto Crônica de Um Ontem e foi originalmente publicada no dia 23 de Julho de 2019.

Comentários

Paulo Barguil disse…
Muitas histórias, nossas e de desconhecidos, sem sabermos o final!
Pelo menos, nessa dimensão. ;-)

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