ENTRE CORRIDAS E CADARÇOS
Outro dia estava participando de uma corrida de rua e observei que perto de mim estava uma mulher correndo com o cadarço do tênis desamarrado.
Algumas pessoas, ao passarem pela moça, avisaram sobre o tênis. Provavelmente imaginaram a moça tropeçando no cadarço, caindo e viram aquela quantidade de gente que vinha correndo atrás e já entenderam que não tinha como essa cena terminar bem, então tentaram ajudar.
A moça, por sua vez, nada fazia. Não parou para amarrar o tênis nem agradeceu às pessoas que avisaram, muito pelo contrário, uma moça que passava e decidiu avisar sobre o cadarço ainda ouviu uma bronca da mulher do tênis. Isso mesmo, a mulher ficou irritada e respondeu rispidamente, dizendo que ela sabia que seu cadarço estava desamarrado e que várias pessoas já tinham avisado, ela não precisava mais de avisos.
Na hora, eu, que era só uma espectadora, fiquei com muita raiva da moça do tênis. Fiquei pensando que se ninguém falasse nada e ela caísse, a primeira coisa que pensaria seria: poxa, alguém poderia ter me avisado sobre meu cadarço! Confesso que pensei horrores sobre a tal mulher, a chamei internamente de mal agradecida e procurei até outro espaço para correr, pois se mais alguém tentasse ajudá-la e ela fosse grosseira, era capaz que eu começasse a torcer para ela tropeçar.
Então olhei para a outra moça, a última que havia avisado sobre o tênis, e lá estava ela: plena, fazendo sua corrida com um super sorriso no rosto como se nada tivesse acontecido. Tive uma vontade real de abraçar a mulher e ver se eu pegava para mim um pouco da sua plenitude.
Certa estava ela, fez o que achou que deveria fazer, ficou com sua consciência tranquila e continuou sua corrida sem se abalar. Se a mulher estava irritada com as pessoas falando do cadarço, então ela que amarrasse! Se não se deu ao trabalho de amarrar é porque queria continuar ouvindo avisos e se irritando.
O problema real é que quando a gente ajuda outras pessoas, o faz mais para ouvir agradecimentos e massagear o próprio ego do que para realmente fazer o que é certo, aí não tem como acabar bem mesmo.
Esse texto faz parte do projeto Crônica de um Ontem e foi originalmente publicada no dia 28 de Janeiro de 2020
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