DO BEM, DO MAL E DA LEI >> Albir José Inácio da Silva
Tem vagabundo escrito na testa, o
meliante. Fica ali, encolhido no chão com cara de coitado - que todos eles
fazem essa cara mesmo - mas a mim não engana. Essa cor, esse cabelo, esse andar
malandreado, a gente conhece essa raça. Só falta o fragrante.
Bastava trabalhar ele uns dois
minutinhos que ele falava até o não perguntado. Mas agora tá difícil da gente
trabalhar. Tem câmera em cada poste, cada esquina, além de um bando de
desocupados com celulares por trás das cortinas e venezianas.
Mas não é só. Até o material que
a gente carregava pra essas emergências – um pozinho, uma erva, uma pistola
enferrujada - já não pode mais. Aviso da corregedoria, do comandante e do
secretário. Como é que se trabalha assim? Depois reclamam que crime neste país
não é solucionado!
Bem diferente dos anos 70 quando
encontrei minha vocação. Aquela era uma época em que se podia fazer justiça.
Tinha-se apoio das autoridades e da sociedade.
Antes disso, ainda na infância,
divertia-me com as histórias do meu herói, Delegado Padilha. Conta-se que ele
passava uma laranja por dentro da calça do suspeito de viadagem e, se a laranja
não caísse no chão, estava preso. Isso porque calça justa naqueles bons tempos
não era coisa de homem. Hoje a viadagem está liberada e se algum herói resolve combatê-la,
por uma questão de princípios, acaba em dificuldades administrativas.
Heróis também de toda uma geração
eram os 12 homens de ouro, que nos anos 60 já desbravavam os guetos imundos,
arrancando de lá a escória que vivia abaixo da linha de humanidade. Limpeza que
se refletia na paz e segurança do asfalto e das areias douradas da princesinha do
mar e demais cartões postais do Rio de Janeiro.
Mais do que apoiar o trabalho de limpeza,
os governantes incorporaram esses métodos quando precisaram cuidar de outro
tipo de bandidos, com ramificações internacionais e apoio de países inimigos
como Rússia, Cuba e China. Foi graças a essas práticas das delegacias
fluminenses que o país não sucumbiu à dominação estrangeira.
Era um tempo em que se podia
trabalhar com base na moral e nos bons costumes e não apenas em normas frouxas
de um frouxo código penal e um permissivo processo.
Os responsáveis pelo controle
externo da atividade policial, chegaram a ser uma preocupação logo após a
Constituição de 88, mas se acalmaram depois de arregados com gratificações
acima do teto. Então passaram a se ocupar da mídia, deixando espaço para uma atividade
mais moralizadora dos agentes da lei.
Mas ontem, infelizmente, fiquei
sabendo que, acossados pelos direitos humanos e pela pressão da imprensa, os promotores
vão investigar os heróis que mais se destacaram na missão de livrar o mundo destas
mazelas. Triste retrocesso.
Não bastassem as câmeras e
celulares fofocando sobre o nosso trabalho, ainda temos de enfrentar a Universidade
com suas pesquisas e opiniões. As malditas estatísticas apontam que onde a
polícia mais mata é também onde mais morre. Os números podem até estar
corretos, mas a análise está errada. Morre-se mais porque se mata pouco. “Bandido
bom é bandido morto”, segundo os 12 homens de ouro.
E como já disse o comandante da
Rota, não se pode abordar favelado do mesmo modo que gente de bem. O morador
dos Jardins ou do Leblon, por exemplo, ficaria ofendido com uma “dura”. Bandido
é bandido, do mal, ateu, não se confunde com o cidadão que teve um deslize, uns
tapas numa vagabunda que passou dos limites, ou aceitou uma comissão em
negócios que fazem a grandeza do país. O problema foi essa Constituição que deu
direitos humanos a quem não é humano.
Enquanto valorosos representantes
da bancada do bem lutam pelo restabelecimento da ordem - como o projeto de lei que afasta do policial
a punição pelas mortes - a maldição dos “direitos humanos” conseguiu emplacar
uma audiência de custódia que só serve para manter impunes aqueles contra quem
“não temos provas, mas temos convicção”, nas palavras de uma estrela da nossa
justiça.
Ainda bem que temos eleições no
próximo ano e candidato que reconhece a importância de um interrogatório bem
feito, com “massagem” e convencimento.
Minha sugestão é - mais uma vez -
tomar de assalto o Congresso e exigir a revogação dessa maldita constituição
que protege bandidos e pune o cidadão de bem, voltando a valer a emenda número
um de 1969. Aquela sim uma carta com instrumentos para uma justiça justa sob os
primados da “ordem e progresso”.
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