SERVIÇO DE RECADOS >> Whisner Fraga

Minha irmã tinha o hábito de sintonizar a Rádio Cancella FM enquanto fazia as tarefas domésticas que nossa mãe terceirizava. Naquele dia, ela estava cismada comigo e acho que queria aprontar alguma. Desse modo, em certo momento, ela gritou meu nome e todos corremos para ver o que acontecia. Parecia tudo muito simples: ela ouvira um recado para mim, que alguma menina da cidade tomara o cuidado de enviar.

Toda a família, em torno daquela afirmação, quis dar sua opinião. É evidente que ela não escutara direito. Como é que podia alguém deixar um recado para mim? Quem é que faria tamanha loucura? E assim por diante. A mais enfática foi mesmo a mãe: Deixa de besteira, para de iludir o menino. Meus pais sempre tomaram o cuidado de minar nossa auto-estima, sob a justificativa de nos tornar fortes para o mundo.

Costumo brincar, e até com certa frequência, que quem me educou foi a escola. Há uma meia verdade nessa lógica. Como eu passava boa parte do dia na casa do meu amigo João Dib, ou na biblioteca, ouso afirmar que bastante de minha educação devo à obrigação familiar e o outro tanto ao meu mundo, que consistia em andanças pelas casas dos amigos e internações em bibliotecas da cidade.

Assim, é fato que minhas notas, somadas a uma certa habilidade com o raciocínio, balancearam a auto-estima, tornando-me, certamente, menos amargo e mais tolerante. No quesito beleza, sempre me achei um fracasso, o que, hoje, não me deixa mais abatido. As espinhas da adolescência sempre me prejudicaram e o fato é que contei com a ironia para minimizar as infindas outras deficiências que detectei ao longo desta curta vida.

Não sei se essa metodologia é uma boa para ser utilizada com os filhos, mas é certo que me dizem com frequência que os limites devem ser postos dentro de casa e que o mundo é um padrasto muito mau. Educar ainda é um mistério e acredito que todos falhamos e falharemos por um bom tempo. Incentivar a ilusão ou mostrar a realidade, sem retoques? Os limites que impomos não podem castrar o ser-humano, visto que dependem de um sentimento moral, de uma época e de uma certa sociedade? Essas questões são apenas o começo do problema. De minha parte, sou sempre a favor do sonho: acho que não faz mal em nenhuma circunstância.

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