A BLITZ >> Whisner Fraga
Como se diz em Minas, não vamos nomear os bois. Até porque alguns bovinos, ao contrário do que atesta a ciência, falam e, como era de se esperar, escoiceiam. Não digo que não aumentarei, caluniarei ou mesmo inventarei alguns trechos do episódio, mas tudo é com uma intenção razoavelmente boa: a de melhor divertir meus leitores. Não sei se o autor das peripécias que relatarei lê jornais ou blogs e se esta crônica chegar aos ouvidos dele, já peço desculpas antecipadamente por qualquer melindre e se o texto agradar, peço ao amigo que me ligue para que eu possa lhe confidenciar o número de minha conta, para uma gorjeta qualquer.
Digamos que voltasse de uma festa que ocorrera nas cercanias de um sítio, em Uberlândia. Havia tomado umas tantas e outras mais. Ao todo, o volume de álcool lançado para dentro do estômago devia ser suficiente para tontear uns quatro cachaceiros de profissão. Não acho nem um pouco bonito o que ele fez, aliás recrimino veementemente essa atitude, mas o fato é que ele pegou a chave da pickup Ranger e foi para a estrada. É de conhecimento geral que bêbado é idiota e ele não fugia à regra. Para sorte dos motoristas que trafegavam pelo local, existia uma polícia rodoviária no meio do caminho. E uma blitz.
É evidente que meu amigo foi parado: a polícia é treinada para farejar culpados. Isso foi antes da lei seca, o que, em termos legais, foi interessante para o sujeito. Desceu do carro e conseguiu se explicar. O problema é que ninguém entendeu. O homem da lei lhe preparou um banho de mangueira, um café forte e um recinto trancado a nove chaves para passar a noite. E a noite passou, é evidente. Amanhecendo, reconheceu a besteira que fez. Tinha uma vaga ideia do que acontecera e temia pelo carro, que não era seu.
O guarda lhe trouxe um recado: pretendia deixá-lo ali enquanto acionava alguém que entendia de leis. Meu amigo perguntou se podia esperar fora da cela. Podia. Ficara sozinho no escritório, porque o outro foi tratar da vida ou da morte, não se sabe. Sentou-se na mesa enorme, desorganizada. Testou o telefone: nada. Tentou acender a luz: nada. Gritou pelo fardado: nada. Como era engenheiro e já trabalhara com energia elétrica e telefonia, além de ser hiperativo, não quis ficar à toa. Não fazia bonito para ninguém, apenas atendia a um chamado maior do cérebro. A linha voltou a seu monótono chiado em menos de meia hora. E nem notícia do policial.
Saiu para contar a novidade e não encontrou ninguém. Viu a Ranger inteira e se sentiu melhor. Faltava a luz. Desmontou o aparato e concluiu que havia qualquer coisa queimada por ali. Procurou por perto e achou um depósito, onde descobrira dezenas de peças sobressalentes: fios, fontes, disjuntores e o que mais precisasse. Estava em pé na mesa, acabando de montar as lâmpadas quando o outro retornou. Nenhum dos dois se abalou, acostumados a ver de tudo e mais um pouco. Meu compadre desceu, caminhou calmamente rumo ao interruptor e gritou: “Fiat lux!” E houve luz.
Como é sabido, mineiro não se apega a picuinhas, de modo que o guarda reconheceu estar perto de um sujeito trabalhador. Fez o sermão, mostrou algumas fotos de corpos estraçalhados, de veículos retorcidos e liberou o meu amigo. Abria a porta da caminhonete quando o policial gritou: passe quando quiser por aqui, será bem-vindo, o prédio sempre precisa de reparos, mas prefiro que da próxima vez venha sóbrio, porque não serei tão bonzinho como fui desta vez.
Digamos que voltasse de uma festa que ocorrera nas cercanias de um sítio, em Uberlândia. Havia tomado umas tantas e outras mais. Ao todo, o volume de álcool lançado para dentro do estômago devia ser suficiente para tontear uns quatro cachaceiros de profissão. Não acho nem um pouco bonito o que ele fez, aliás recrimino veementemente essa atitude, mas o fato é que ele pegou a chave da pickup Ranger e foi para a estrada. É de conhecimento geral que bêbado é idiota e ele não fugia à regra. Para sorte dos motoristas que trafegavam pelo local, existia uma polícia rodoviária no meio do caminho. E uma blitz.
É evidente que meu amigo foi parado: a polícia é treinada para farejar culpados. Isso foi antes da lei seca, o que, em termos legais, foi interessante para o sujeito. Desceu do carro e conseguiu se explicar. O problema é que ninguém entendeu. O homem da lei lhe preparou um banho de mangueira, um café forte e um recinto trancado a nove chaves para passar a noite. E a noite passou, é evidente. Amanhecendo, reconheceu a besteira que fez. Tinha uma vaga ideia do que acontecera e temia pelo carro, que não era seu.
O guarda lhe trouxe um recado: pretendia deixá-lo ali enquanto acionava alguém que entendia de leis. Meu amigo perguntou se podia esperar fora da cela. Podia. Ficara sozinho no escritório, porque o outro foi tratar da vida ou da morte, não se sabe. Sentou-se na mesa enorme, desorganizada. Testou o telefone: nada. Tentou acender a luz: nada. Gritou pelo fardado: nada. Como era engenheiro e já trabalhara com energia elétrica e telefonia, além de ser hiperativo, não quis ficar à toa. Não fazia bonito para ninguém, apenas atendia a um chamado maior do cérebro. A linha voltou a seu monótono chiado em menos de meia hora. E nem notícia do policial.
Saiu para contar a novidade e não encontrou ninguém. Viu a Ranger inteira e se sentiu melhor. Faltava a luz. Desmontou o aparato e concluiu que havia qualquer coisa queimada por ali. Procurou por perto e achou um depósito, onde descobrira dezenas de peças sobressalentes: fios, fontes, disjuntores e o que mais precisasse. Estava em pé na mesa, acabando de montar as lâmpadas quando o outro retornou. Nenhum dos dois se abalou, acostumados a ver de tudo e mais um pouco. Meu compadre desceu, caminhou calmamente rumo ao interruptor e gritou: “Fiat lux!” E houve luz.
Como é sabido, mineiro não se apega a picuinhas, de modo que o guarda reconheceu estar perto de um sujeito trabalhador. Fez o sermão, mostrou algumas fotos de corpos estraçalhados, de veículos retorcidos e liberou o meu amigo. Abria a porta da caminhonete quando o policial gritou: passe quando quiser por aqui, será bem-vindo, o prédio sempre precisa de reparos, mas prefiro que da próxima vez venha sóbrio, porque não serei tão bonzinho como fui desta vez.
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