DEDOS AMARELOS >> Leonardo Marona
para Camila, com amor
O dedo amarelo é o signo desta uma nação juvenil. Rapazes e moças que levam o peito nos sapatos e conhecem as entranhas de uma repartição argentina. As esquinas dobraram ao meio as sacadas do espírito e, sem entender nem língua nem a caralha de livros que nos dispomos a ler, seguimos as mudanças hormonais em busca do feto fresco, os dedos amarelos de cigarros mal-dormidos e às vezes essa fúria tão calma nos olhos amplos. E quantos olhos temos agora, Major Tom, e há quanto tempo não víamos, com tantos olhos, a nossa terra natal? Viemos para correr às pressas rumo à semente duvidosa, somos da folha mais branda, a tal capaz de enlouquecer ao vento. A mais leve, de maior movimento. A cruz que carregamos nos incomoda apenas como um belo quadro: somos apegados às belezas mitológicas. Sorrimos e amamos, e somos repletos da mais alta mudez. Nossos olhos dizem muito, a boca faz o desserviço de acumular siglas e apelidos carinhosos em russo. Por entre as entranhas ainda perturbadas do sentido, observamos as personagens dos romances que mais gostamos. Vejam bem: eles perderam a prepotência da fantasia pura, são agora camaradas, também eles alimentaram por um tempo a nossa fogueira. Seremos despejados ainda de muitos corações, e nossa estirpe nos permite dizer isso com candura. Nosso medo é purpurina de enfeitar hienas, nossos passos são entidades híbridas rumo ao calor. Temos uma única Pasárgada, alguns chamam Terra de Marlboro. Pegamos carona em qualquer veículo, temos belas nucas e, melhor de tudo, sabemos cantar com o coração as músicas de nossas vidas. Não fiquem no caminho os que não podem compreender. Por delicadeza arranquem os lenços dos bolsos e saúdem – a presença meteórica dos que não sabem voltar e se queimarão no sol exclusivo, os belos de corpo e de passagem, com os dedos indicadores amarelos, na mão esquerda, alimentando de alguma forma o coração.
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