a biblioteca de gotham city >> whisner fraga

 


"só serei livre se sair de gotham city"
jards macalé

queria ter exercitado mais a memória,

pensei que não precisaria dela, que bastavam o raciocínio, o senso crítico, a empatia e um pouco de sorte para desbravar o cotidiano,

tirando a prevenção de transtornos neurodegenerativos (e só isso justificaria qualquer esforço), a preguiça não vê sentido nesse tipo de empenho e acaba vencendo invariavelmente,

às vezes me envergonho diante daquele branco, mesmo que eu tenha me conformado com a impotência diante de um nome ou um título, essas coisas inúteis que os outros valorizam tanto,

esqueço o santo, mas não o milagre:

um influencer contratou um profissional (marceneiro?, pintor?, artista plástico?, freelancer?, encanador?, marido de aluguel?) para construir uma biblioteca, cheia de lombadas, de nomes clássicos da literatura mundial (não esquecer de dostoiévski, machado de assis, conceição evaristo),

lombadas fake, não importa como (pintadas?, esculpidas?, entalhadas?, forjadas?, soldadas?),

não sei como a coisa se arranjou, mas o trabalho foi feito e a matéria no blog estampava o valor final desembolsado, algo meio impensável e bem mais caro do que fabricar uma estante (de madeira?, alvenaria?, aço?) e abarrotá-la de livros verdadeiros e novinhos,

ainda bem que minha memória não anda boa para nomes, eventos, datas,

não queria desperdiçar parte do cérebro lembrando o nome desse sujeito esperto.


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imagem gerada no ideogram.

Comentários

Nadia Coldebella disse…
Acho... o q eu ia dizer mesmo? Não lembro, mas se não fosse fake, tipo o fakeleitor dos fakelivros, eu não esqueceria
Jander Minesso disse…
Esse cara deve ter lido a história da biblioteca do Umberto Eco e pensou: “boa ideia”.
Ana Raja disse…
O esquecimento, às vezes, salva!
Zoraya Cesar disse…
haha, mas o fato foi tão traumático que vc nao esqueceu o milagre, o mais importante para ser esquecido. A memória, essa criatura voluntariosa...
Albir disse…
Não lembro o nome do santo, mas o milagre era vender livros nas fazendas de gado. Ele explicou que os fazendeiros construíam lindos escritórios com estantes até o teto e compravam livros a metro. Os assuntos não importavam, desde que as coleções preenchessem as prateleiras.

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