É DIFÍCIL CONTAR COM O TAL DO BOM SENSO >> Clara Braga
Na quadra onde eu moro tem uma igreja.
Minha falta de conhecimento religioso não me permite precisar qual a vertente da igreja, mas isso também não interfere no caso que vou contar.
Passo diariamente na frente dessa igreja e uma coisa sempre me chamou a atenção. No portão, tem instalada uma placa com os dizeres: deixe ou pegue. Junto a esses dizeres tem desenhos de cabides de roupas e espaços para as pessoas pendurarem roupas para doação e, quem estiver precisando de roupas, pode pegar.
Eu acho essa ação genial e não entendo porque outros locais não aderem à iniciativa, mas confesso que raramente vejo roupas penduradas ali fora do período natalino, que é quando as pessoas ficam boas de coração e doam roupas como se estivessem fazendo uma grandiosa ação, quando na verdade só querem fazer aquela famosa limpa de ano novo para comprar coisas novas no ano que se inicia e promete ser diferente.
Bom, mas esse meu julgamento, que foi quase um desabafo, na verdade não vem ao caso, já que quem passa necessidade não se importa muito com o motivo da doação daquilo que recebe.
Porém, eu tenho para mim que quando eu faço uma doação eu estou doando coisas que ainda estão passíveis de serem utilizadas, mas que por algum motivo não me servem mais. Coisas que eu usei e que se acabaram precisam de um outro fim.
Eu achava que esse era um pensamento geral da nação, até que outro dia estava passando na frente da grade da igreja e me deparei com os cabides cheios. Fiquei super feliz, até que me aproximei e vi que o que tinha pendurado eram várias e várias cuecas.
Sim, cuecas de marca, de qualidade, mas cuecas usadas.
Será que a pessoa que para o seu dia para pegar cuecas que não usa mais, coloca em uma sacola e pendura para doação realmente acredita que está fazendo algo muito bacana?
Eu preciso acreditar na humanidade, afinal, tenho filhos pequenos que vão ficar por aí nesse mundão, mas tem sido difícil.
Então fica aqui o meu apelo, por favor, façam doações, mas não esqueçam que quem recebe doações pode ter perdido muita coisa, mas não a dignidade.
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