CARTA ABERTA AO SENHOR ESTRESSADO DO CARRO DE TRÁS >> Clara Braga

Outro dia, antes das 8h da manhã, estava dirigindo em direção à um laboratório para fazer exame de sangue. Detesto tirar sangue, me julguem, então não estava exatamente no melhor do meu humor, mas como eu disse, não era nem 8h da manhã, o dia ainda não tinha tido a chance de ser estressante o suficiente para me deixar absolutamente irritada. Mas certamente o senhor que dirigia atrás de mim não poderia dizer o mesmo. 

Eu estava em uma rua que dava acesso à outra. Porém, um carro estava vindo em alta velocidade nessa outra rua que eu queria acessar. Não estava tão perto, mas com a velocidade que estava logo chegaria e meu carro não é potente para arrancadas rápidas, o que faz com que eu prefira esperar os carros que estão em alta velocidade passarem do que me enfiar na frente deles. Parei exatamente onde a placa manda parar para aguardar o carro passar e, como eu já havia observado que não vinha outro carro atrás dele, essa minha espera seria de no máximo 6 segundos, ou seja, não é o suficiente para atrasar ninguém. Mas certamente o senhor que dirigia atrás de mim não poderia dizer o mesmo.

Quando o senhor que estava atrás de mim viu que eu ia ser prudente, parar e esperar, ele se irritou profundamente. Ele achava que eu devia me enfiar na frente do outro carro em alta velocidade e viver uma grande aventura. Então começou a buzinar loucamente por 6 segundos, o tempo que o carro levou para passar, e depois, quando entramos na rua, ele foi para a faixa do lado e ultrapassou me xingando como se eu tivesse impedido ele de salvar a vida de alguém.

Se fosse final do dia, talvez eu, erroneamente e sem orgulho algum da minha atitude, tivesse xingado de volta, mas como eu disse, eram 7 horas 58 minutos e 6 segundos, e eu já havia decido que a pior coisa que aconteceria no meu dia seria tirar sangue.

Mas agora preciso me dirigir a esse senhor e dizer: 

Senhor estressado do carro de trás, naquele dia em que você se irritou profundamente comigo eu me achei muito superior a você, afinal, eu não me deixei levar pela sua irritação, eu apenas ri enquanto você esbravejava. 

No entanto, fazendo uma retrospectiva do meu dia, eu acabei lembrando que assim que você se afastou e eu fiquei com aquela cara de quem não entende como alguém pode estar naquele estado de nervos antes das 8h da manhã, meu primeiro pensamento foi: velho louco, desse jeito vai andar mais 100m e infartar.

Então eu pude ver que eu não sou tão evoluída quanto eu imaginei, uma pessoa evoluída de verdade simplesmente iria rir e nem lembrar do ocorrido, mas eu não, eu praticamente anunciei sua morte, me desculpe.

Mas se melhora a situação, a verdade é que fiquei com tanta raiva de você que achei que tirar sangue foi super tranquilo, nem senti nada, então, se você não tiver infartado logo ali na frente e quiser tirar minha paciência no meu próximo exame de sangue, eu vou achar ótimo! 

Obrigada.

Comentários

Jander disse…
Ah, mas é tão gostosinho desejar o mal a quem irrita a gente. De vez em quando pode, não pode?
Anônimo disse…
Eu entendo você. Um dos meus planos é comprar uma Kombi. Precisa ser velha e barulhenta. Quero atrasar a vida desses "tipos estressados" logo ao amanhecer com a minha Kombi. André Ferrer aqui.
Nadia Coldebella disse…
Confesso que na maior parte das vezes eu sou a senhora estressada. Mas é difícil eu buzinar, tenho muita vergonha. Quer dizer, sento a mão na buzina se cruzo com um idiota mais estressado do que eu... evolução 0!
Zoraya Cesar disse…
HAHAHAAHAH, os comentários do Jander e Ferrer... me identifico. Eu rogo praga. Countess, q vergonha, kkkkk

Ms, Clara, no final vc é mais evoluída do q pensa! Conseguiu até tirar proveito da situação e ser irônica.
sergio geia disse…
Clara, essa coisa de trânsito é um perigo. Certa vez, um amigo pacífico, super do bem, perdeu a cabeça a ponto de seguir o fulano que fez bobagem. Onde aquilo poderia dar? A gente perde a cabeça. Se eu estivesse no seu lugar, falaria muita merda pro sujeito. Um perigo.
Albir disse…
Na juventude já gostei de dirigir. Mas estou me afastando cada dia mais dessa atividade. A racionalidade humana aí é duvidosa. Você conseguiu manter a segurança, apesar de tudo.

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