ATALHO >> Carla Dias


Tem certeza de que a coragem é atalho. É resolver a situação na pressa ou ao gosto da exigência de terminar logo. O relógio grita, melhor sair correndo, mesmo sem ter ideia se haverá parada. Porque chegar é para poucos, então, não há motivo para analisar a agonia, que é sentimento nascido para tentar convencer - quem por ele é consumido - de que há ruminação a ser feita. Sabe que ruminar raramente ajuda; tem a ver com compreender e a compreensão é atalho. É esconder à vista, para então passar reto, exercitando a indiferença, e assim, calar a responsabilidade. Pois a culpa é atalho. Analisá-la é ajustar a fragilidade, feito roupa nova um número maior. Nutrir o apreço é enfeitar tragédias, revitalizar continuamente o engano de criar conexão e permitir o deleite. A felicidade gerada por ele é atalho, recurso que desvaloriza a solidão, item necessário para um gerenciamento de tempo que atende a necessidade do estar sempre à disposição... de quem? Do quê?  

Imagem: Marisposa Negra © Graciela González Duque | Ferthewriter, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons

carladias.com.br

Comentários

Nadia Coldebella disse…
Esse texto de hoje é um soco no estômago.

Essa agonia (angústia?) eu conheço e mesmo com coragem, não consegui chegar a lugar nenhum. Nesse caso, atalho não vira caminho? Fico pensando se é pra gente chegar mesmo em algum lugar...

Eu aqui te lendo,fazendo textoterapia logo de manhã...

Bjos, querida!
Zoraya Cesar disse…
"Analisá-la é ajustar a fragilidade, feito roupa nova um número maior." Carla, confesso que tive de ler duas vezes e todas elas me causaram um certo desconforto, como algo lá no fundo querendo despertar, mas, em vez disso, procurando atalhos para escapar e continuar dormindo. Incômodo, desconfortável. E necessário.
Albir disse…
Pra quê? Pra quem? Fujo das suas perguntas pra não enfrentar as minhas.
Carla Dias disse…
Nádia, pode ser que esse lugar esteja no meio do caminho. Acredito que os atalhos raramente são favoráveis. O que aprendemos ao lidar com o que nos acomete, com quem se achega à nossa vida, não dá pra resumir. Não se quisermos viver o que sentimos, não camuflar sentimentos.

Zoraya, desconforto é o que alcança quem não se dá muito bem com atalhos. Quando se trata da vida, sentir desconforto é saber que se é capaz de questionar o que nos entorta.

Albir, e não é que, mesmo fugindo lindamente, elas sempre nos alcançam?

Postagens mais visitadas