CLARISSA >> Sandra Modesto
O dia parecia um convite ao amor.
Era “domingo”. O domingo de Clarissa. O dia dela e de João.
Clarissa gostava muito de João. Do abraço apertado de João, do beijo louco!
Um amor nutrindo – os vigorosos que fazia-os chorar de dar risadas.
Por causa dele, os detalhes extasiariam o domingo. E isto estava bem estampado em olhares, sensações, vibrações.
Os domingos esperados sempre ficavam distantes de um dia normal, casual, certeiro. Ah! João e Clarissa viveriam o imaginado. Sonhado por eles desde que se conheceram. Clarissa sentia que o simples querer em ver João. Era um querer.
Um baita querer.
Foi então, que se olhou no espelho. E percebeu...
“Deslumbrante” disse Clarissa à sua própria imagem. O vestido azul de domingo.
(Azul, dum azul do céu, do lápis de cor) feito à mão, destacando-lhe os seios empinados. O resto só João podia tão bem descrever!
Nos cabelos escuros, Clarissa prendia um rabo de cavalo só para João desprender, para antes de desprender roçar - lhe a nuca e enfiar os dedos longos suavemente e despenteá-los. Em frações de segundos os dois estavam hipnotizados. Do jeito deles. Criando um ninho peculiar, uma mistura de amor e motivos de segredos.
É que na verdade, só de pensar o domingo sem João, Clarissa perdia o enredo escrito de um dia encantado, os momentos silenciosos nos olhares, o avançar da pretensão do amor.
Tudo ficou tão mais bonito quando João apontou na rua. Clarissa ficou ansiosa. Uma ansiedade desenhada em cores e paixão. O coração marcado por devaneios...
Naquele domingo, como de costume, João almoça na casa da amada. E no findar da tarde...
A família reunida envolvida com a rotina do domingo, já tinha contado piada, tomado cerveja, ido à igreja. Clarissa e João saem para um passeio...
No caminho; Um afago, beijos, pele, almas.
João conta seus planos. Um casamento eterno. Seu sonho maior: Ter filhos parecidos com Clarissa.
No quadro vivo do passeio, o verão insistia em fazer parte.
Chegam a um lugar de muito verde.
Unindo-se ao verde, um rio com uma água muito cristalina.
De repente, uma chuva... A água morna do tempo quente coloca à mostra o vestido grudado ao corpo de Clarissa. João a abraçou com ternura e vontade. E os dois, se amam no domingo. Ali, debaixo da chuva. A história aconteceu nos anos setenta. Clarissa não existe mais. Foi tragada pelo tempo. João perdeu – se no rabisco qualquer
"O texto é um conto que escrevi aos 16 anos"
Ilustração: Pinterest.com
Comentários