DE TODO FIM NASCE UM COMEÇO << SORAYA JORDÃO
Hoje eu velei meus mortos. Levei-os para passear pelas ruas da memória como quem caminha com seu bichinho de estimação nas calçadas do bairro. Os partidos tomaram a dianteira, correram mais do que eu, na direção que escolheram seguir. Agarrei a coleira do tempo e me deixei levar, por horas. Foi tão divertido brincar com eles, ouvir suas vozes, nossas gargalhadas, rever as cenas feitas de imagens gastas de passado. O mundo ficou tão colorido de presença. Uma colcha de lembranças nos protegeu do frio congelante da partida. A dançar acima das nossas cabeças, palavras, cheiros, olhares, toques, colo. O amor é mesmo inoxidável. Desafia o tempo, a distância, o espaço e a mortalidade da vida. Repousei no conforto da nossa eternidade.