A gente se acostuma ou Paris Lado B >> Alfonsina Salomão
Quando digo que moro em Paris, os olhos das pessoas brilham. Com frequência elas me pedem para falar mais sobre como é morar na Cidade Luz. Pois bem, morar aqui é bom, depois que a gente se acostuma com certas coisas. Por exemplo, a gente se acostuma a ouvir “bonjour” como uma forma de recriminação. A entrar na loja, pedir “perdão” para a vendedora que está de costas e ouvir um “bonjour” áspero e grosso, porque ousamos lhe dirigir a palavra antes de dizer “bonjour”. A gente se acostuma, então, a dizer “bonjour” à vendedora antes de tudo e a ser completamente ignorado, porque não dissemos “perdão” primeiro. A gente passa, então, a experimentar as duas fórmulas alternadamente, sem jamais conseguir escutar um “bonjour” amável da vendedora. Por fim, a gente se acostuma a ser sistematicamente maltratado pelas vendedoras e vendedores da cidade, que agem como se estivessem fazendo um enorme favor ao nos dar um mínimo de atenção. A gente se acostuma a chegar perto de um vendedor, ou do ca...

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