MISÉRIA CONSIGNADA >> Albir José Inácio da Silva

O empréstimo consignado é importante conquista da civilização, que veio corrigir uma injustiça histórica contra as instituições financeiras.
 
O piedoso banqueiro, no afã de minorar a penúria dos miseráveis, disponibiliza seu capital acumulado com trabalho e privações, praticamente sem garantias. Porque, diferentemente de outros tempos, não se pode dispor do corpo, nem dos filhos, nem do barraco do devedor.

Os bancos acabam vítimas dos ladinos e preguiçosos que se locupletam com a facilidade de crédito, gastam mais do que precisam e ficam ostentando luxos incompatíveis com a austeridade que dos cidadãos de bem se espera.
  
Assim o suado dinheiro do banqueiro acaba indo parar na barriga do preguiçoso e sua prole, que compra sem nenhum critério ou pesquisa de preços. Por isso os bancos quebram todos os dias, enquanto os vândalos queimam os carnês de empréstimos nas suas bebedeiras e comilanças de final de semana, em verdadeiros rituais de heresia contra o sistema financeiro.

Esta ameaça ao capital está finalmente sendo tratada com a devida competência pelas autoridades. Empréstimo consignado para todos. Uma solução adequada aos nossos tempos civilizados, em que já não se permite escravizar os filhos ou dividir o corpo do devedor em tantos pedaços quantos sejam os credores.
 
Os bancos poderão descontar até quase metade dos salários, benefícios ou pensões. A comida vai diminuir, mas acaba para os bancos o risco de inadimplemento, e combate-se a obesidade dos glutões.

O perdulário não conseguirá mais dar calote, vai pagar sua dívida por muitos anos, frequentemente até o fim da vida, pelo dinheiro que tomou emprestado e gastou com pão e leite em excesso para a prole irresponsavelmente numerosa.

Assim o dinheiro volta aos cofres sagrados dos bancos sem precisar de burocracias, como incentivos fiscais e juros da dívida pública. Vai direto da conta-salário do esbanjador irresponsável e caloteiro para os cofres das sacrossantas instituições financeiras.
 
É uma questão de justiça.  Feliz é o banco da nação cujo deus é o dinheiro!

Comentários

Zoraya Cesar disse…
O que dizer, né Dom Albir? Contra os fatos não há argumentos. Quando a propaganda joga névoa em nossos olhos, dizendo que o que os grandes detentores do poder monetário trabalham para o nosso bem, como desacreditar, né? Pior, como nao cair na armadilha, vez que nao há opções. Ou pega o empréstimo e come, ou nao pega e morre de fome na hora. Morre de fome depois, qd chega a hora de pagar a extorsão.
Sandra Modesto disse…
Infelizmente, consignado já pagou minhas dívidas. Depois vem a margem para mais consignado, e assim por diante. Aqui em casa somos professores. Não é fácil fugir dos empréstimos. O texto ficou muito bom.
whisner disse…
Infelizmente os empréstimos são uma realidade do brasileiro, ainda mais nestes tempos de descaso com a população. O banco, claro, sempre ganha. Texto irônico ao extremo, Albir. Parabéns.
sergio geia disse…
Ironia fina, caro Albir.

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