O MONÓLITO - final >> Albir José Inácio da Silva

(Continuação de 04 de maio de 2015)

O Professor, único intelectual presente, obteve a palavra de volta, em meio ao tumulto que ameaçava se formar. Acreditava que o obelisco fosse um artefato trazido por extraterrestres. Precisava de mais estudos para determinar a origem, a finalidade e a razão de tão estranha forma.

O Padre, quando conseguiu falar, esbravejava. Era castigo dos céus! Só ele e Deus sabiam das barbaridades que escutava no confessionário! Que se lembrassem de Sodoma e Gomorra! Era chegada a hora! O final dos tempos! O apocalipse!

A beata Santinha, abanando-se, pois começara a sentir muito calor desde essa manhã, não acreditava em castigo. Aquilo era tentação do Demônio pra fazer a gente pensar besteira. Pra levar a gente pro inferno.

O Coronel pediu silêncio de novo e quis saber que providências já tinham sido tomadas. O Prefeito informou que mandara o trator, mas as rodas giraram sozinhas e o bicho não se mexeu um dedo do lugar. As bananas de dinamite fizeram buracos em volta, mas nenhum arranhão nem nas pedras nem nele. O material era desconhecido. Duro que nem concreto por dentro, mas tinha uma maciez incômoda na parte de fora. Embora ninguém admitisse tê-lo tocado.

Trocaram-se acusações e a reunião terminou com uma única deliberação. Um mensageiro levou cartas desesperadas à Capital.

O dia amanheceu e verificou-se que a coisa, assim como veio, sumiu. As pessoas, quando não a viram mais, seguiram para seus afazeres e a praça ficou quase deserta.

Mas uma comitiva trouxe da Capital um Bispo, um Delegado e um Major do Exército.

O comitê de recepção compunha-se dos assustados Padre, Prefeito e Sargento. Os três juravam, em frente à antiga fonte, ter visto “com estes olhos” o informado nas cartas.

 Depois de uma viagem de muitas horas e pingando suor debaixo do sol escaldante, os da Capital entreolharam-se. O Delegado quis prender o Prefeito, mas não achou qualquer justificativa no Código Penal. O Major do Exército, que não ligava muito para códigos, prendeu o Sargento PM, embora não houvesse entre eles qualquer hierarquia.

O Bispo foi logo avisando ao Padre que ele seria transferido para a selva amazônica, numa região infestada de cobras e de febre amarela. O Padre, sorrindo, completamente bêbado, disse que não se importava. Era Padre, mas era macho e não ia mesmo ficar numa cidade visitada por aquilo.

A vida voltou ao normal e a cidade divide a sua história em antes e depois da coisa.

 O Coronel proibiu que se falasse nela em sua Fazenda, e também na cidade.

 As irmãs Felício continuaram acendendo velas todos os dias sobre as pedras. Pedras sagradas, segundo elas, mesmo sem o santo.

Para a beata Santinha os calores continuaram, mas ela já não está mais tão indignada. Dizem até que conseguiu uma réplica em silicone. Menor, é claro.

O Professor deixou o magistério e se dedicou à Ufologia. Mas ainda não tem melhores explicações sobre o visitante. Quando indagado, e sabedor das proibições que envolvem o assunto, filosofa sua dúvida:

- Falo ou não falo, eis a questão!


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