NA TEORIA TODOS SOMOS PRÁTICOS >> Carla Dias >>

Há dias em que perguntas simples, e que merecem respostas objetivas, caem na vida da gente como se fossem chamarizes para desabafos ou delírios.

Ontem uma amiga me perguntou como eu estava, e ao invés de responder “tudo bem” ou “mais ou menos”, contei a ela uma historinha:

Eu... Nada. Estou confinada no meu mundo imaginário, onde os cobertores são quentinhos e o vinho substitui a água. Onde o pianista, que também arranha um violão, compõe ao lado de onde escrevo meus livros. Há quarto de hóspedes na casa, para receber os amigos, assim como canecas em louça coloridas para servi-los com café ou chá.

Sim...Eu ADORO canecas em louça!

Continuando...

Fico pensando se, valendo a previsão que um amigo fez para mim, há alguns anos, dia desses eu não entrarei nesse universo fictício e interessante e ficarei por lá mesmo... Maluca de tudo e, finalmente, feliz.

Hoje, outra amiga caiu na besteira de perguntar como eu estava:

Com um mau humor intruso que só... Onde já se viu mau humor invadir o dia da gente desse jeito!

O mau humor passou, depois de dois minutos e pouco de conversa.

No fundo, eu até gosto de dar respostas prontas: tudo bem, obrigada... Melhor é impossível (isso me lembra Jack Nicholson e Helen Hunt no filme) e etc e tal. Mas confesso que gosto muito mais de esticar respostas, em dias mais inspirados, claro.

Então, cuidado com as perguntas que me fazem...

Mesmo durante as conversas, eu acabo pegando as malas da doidice e viajando no assunto... Basta me dar corda.

Dia desses, um amigo estava baixo astral, cansado da rotina, dizendo que a vida andava chata. Passamos um tempão tentando encontrar algo que o faria feliz, mas nada! Pior do que estar triste é não saber o que poderia lhe fazer feliz, e ainda não estar no ponto de usufruir dos benefícios dos antidepressivos.

Então, eu inventei uma nova profissão pra ele:

Colecionador de histórias verídicas... Isso lhe dará um bom futuro, depois de conseguir um repertório bacana de intromissões na vida dos outros. Pense bem: você pode ser promovido a contador de histórias alheias e se aposentar como um ícone da arte de ouvir o que as outras pessoas têm a dizer e transmitir essas informações, sem ser rotulado, cruel e erroneamente, de fofoqueiro.

Bom, ao menos ele deu boas gargalhadas.

Semana passada, uma prima chorosa reclamava que não encontrava alguém bacana com quem se casar e ter filhos. Foi um chororô de cortar o coração. Ela até disse que achava que não era digna disso!

Enfim, eu já tinha esgotado as frases feitas e alguns provérbios e ela continuava naquela tristeza toda. Então, disse a ela que encontraria alguém, porque ela merecia... E mais! Que eu faria a produção do casamento dela.

Comecei a fazer os planos. O coração na mão e a imaginação a mil.

Há dias, também, em que conversas difíceis merecem um pouco de inventividade. Despertar em uma pessoa a esperança e o desejo de seguir adiante pode ser fácil. Complicado é que essa pessoa, ciente do que se passa com ela, deve alimentar disposição para encarar as suas batalhas pessoais.

Agora, com licença, mas vou tomar um café na minha caneca em louça... E ouvir um pianista imaginário tocar uma canção que ainda não foi composta.


www.carladias.com

Comentários

Muito bom, Carla! Acho que foi o seu texto mais bem humorado que já li. E gostei. Manda ver mais na Carla louca. :)
Anônimo disse…
Uia, Carla! Eu também adoro canecas! Tenho coleção! Vambora aproveirar o frio, tomar um cappuccino e alongar uma conversa?
Beijos
Amor amor disse…
Carla, deve ser um barato conversar com vc pessoalmente. Até de mau humor, vc consegue ser criativa, e até positiva, e manter o senso de humor! As pessoas tb tem que tomar cuidado com as perguntas que me fazem, porque nos piores é que eu alongo as respostas, hahaha...

Beijinhos doces cristalizados!!! ;o)
Carla Dias disse…
Ah, Carol, obrigada por esse comentário. Sempre achei que me comunico melhor escrevendo, mas vai que estou errada?
E vai que dia desses acontece um bate-papo ao vivo, né? Um futuro encontro entre cronistas e leitores.

Beijos!

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