NÃO TEM FOTO >> Carla Dias



São Paulo é uma cidade repleta de espaços interessantes que recebem pessoas tão interessantes quanto. Nas entrelinhas de suas ruas, espalham-se oportunidades de sermos felizes. É um acontecimento que chega ao nos movimentarmos em uma rotina que nos mantém ocupados com o que virá. E como já entendemos que ser feliz é provisório (entendemos, né?), que a felicidade vem em doses homeopáticas, estar presente me parece natural.

Ontem, a música foi a desculpa perfeita para alinhar felicidade à realidade, o que, convenhamos, tornou-se um exercício puxado. Claro, foi preciso equilibrar as urgências da rotina com o desejo de estar lá. Neste caso, meu desejo tinha a ver com alguém que admiro e não via no palco há muito tempo.

Lembro-me de quando conheci a música dele. Bicho Preto foi disco na repetição durante muito tempo. Tornou-se um dos meus preferidos. Sempre gostei de músicas que me levassem a pensar sobre o que fosse, mas daquele jeito, sabe? Realidade despenteada, sem retoque, sem maquiagem, mas também repleta da poesia da existência, ela sempre ruidosa e catártica. Mas não bastavam as letras de impulsionar reflexões necessárias, brotadas da observação do outro, da rua, da história do lugar, da pessoa, do mundo, da falta e da abundância.

A música...

Élio Camalle é compositor necessário para a música popular brasileira. Tive a sorte de nos tornarmos amigos e de acompanhar, ao longo de muitos anos desde a estreia da nossa amizade, um músico que toca violão que é uma lindeza, canta bonito — e bem! — e cria arranjos de calar pessoas na profundeza do sentimento.

O show de ontem, “Diga que você virá”, foi em um lugar muito bacana, de fazer pessoas se conectarem no gosto: o Teatro da Rotina, em Pinheiros. E foi de matar a saudade de Élio no palco, de relembrar canções que fazem parte da minha realidade e acompanharão muitos momentos da minha vida, de conhecer outras e melhorar meu repertório de ouvinte apreciadora de boa música. Musicalmente, preciso reforçar, foi incrível! Élio trouxe para o palco dois músicos que eu não conhecia e fiquei muito feliz em conhecer: Vitor Coimbra (bateria) e Lucas Coimbra (teclado e acordeom). E o samba, o baião, a valsa...

Eu tentei, mas confesso: não me dediquei. Queria registro, mas me distraí, passou, sem clique. Durante o show, comentei com Rubia, amiga de uma vida e companheira das aventuras musicais: nem consegui tirar foto. Ela tentou, mas as luzes, o isso daquilo... não deu certo, não.

A verdade é que nem insistimos. Estava tudo tão bonito de se ver e ouvir, que vimos e ouvimos — e saímos de lá bem.

E no balaio da alegria que foi ontem, um abraço de matar a saudade.

Não tem foto, mas tem https://www.youtube.com.

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