HORTELÃ >> JANDER MINESSO


Tinha uma velhinha de vestido preto vendendo bala num semáforo debaixo do sol ardido. As varizes escalavam as pernas dela e você poderia dar uns oitenta anos para a mulher sem medo de errar.

A senhorinha estava mais perto do fim do que do começo e vendia pastilhas de hortelã no farol. Ou ao menos, tentava. Pendurava os produtos nos retrovisores dos carros e nunca colocava além do terceiro veículo de cada fileira para não precisar correr na hora de recolher tudo. Mas fechava poucos negócios. Talvez faltasse esforço.

Já as varizes galgavam aqueles gravetos de pernas com empenho e disciplina. Sabe-se lá até onde tanta diligência poderia chegar. Varizes sobem até o pescoço? Quanto custa uma embalagem com quarenta caixinhas de balas refrescantes? Quem escolhe trabalhar debaixo do sol usando um vestido preto? Esse tipo de coisa fica rodando pela nossa cabeça quando o semáforo está fechado. Mas depois de um tempo, ele abre.

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Imagem: Dim Hou por Pixabay

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