E TREMEMBÉ? >> Clara Braga

Goste você ou não, o true crime está super em alta.

Eu sou extremamente medrosa e facilmente impressionada, por isso, nunca me imaginei como uma consumidora desse gênero. Mas, preciso confessar que algumas produções me pegaram de jeito.

Acho que o podcast Praia dos Ossos foi o primeiro true crime que eu ouvi. Achei simplesmente incrível e minuciosamente bem produzido, tanto que já virou série.

Mais recentemente conheci outro podcast, o Silenciadas, que é igualmente bem produzido. Por vezes, enquanto ouvia esse último, me questionei sobre o fato de eu estar tão interessada em ouvir histórias tão abomináveis.

Com o tempo, fui entendendo que não é o crime que chama a atenção, mas o fato de ver outras mulheres se unindo para dar voz a quem foi tão violentamente silenciada.

Dar às vítimas de homens como João de Deus a oportunidade de contar suas histórias depois de terem sido questionadas e descredibilizadas não é importante só para elas, mas também para mulheres que, por motivos diversos, nunca conseguiram contar suas histórias.

Isso sem falar da oportunidade de informar outras tantas mulheres sobre essas situações de abuso, que podem ser tão difíceis de serem identificadas.

Bom, mas no meio disso tudo chega Tremembé, a prisão dos famosos. Uma coisa eu posso afirmar, mesmo sem ter assistido toda a série, a produção é incrível, daquelas para ninguém colocar defeito dizendo que o audiovisual no Brasil é de baixa qualidade.

Ainda assim, alguma coisa me incomoda. Já ouvi muita gente dizendo que você tem que assistir como uma ficção, mas eu não consigo, não é ficção.

Muitos questionamentos me atravessam e eu nem sei se eles são coerentes: como ficam as pessoas que a anos precisam lidar com uma dor descomunal, causada por crimes bárbaros e que agora assistem a esses criminosos sendo tratados como celebridades?

Quem são as pessoas que gostaram tanto da série que foram seguir o perfil de Instagram dos ex-detentos e ajudar a bombar seus negócios? Isso é errado?

Não é doentio pensar que um dos irmãos se ofenda com o fato de questionarem sua sexualidade, mas não fale nada sobre o fato de ser um assassino? E as pessoas encherem o Instagram da pessoa em questão, “exigindo” explicações sobre o caso que ele teve na prisão, mas ninguém questiona como ele se envolveu no assassinato dos sogros do irmão? Quer dizer, fica parecendo que está tudo bem em ser assassino, mas gay já gera uma comoção a mais! Isso não é no mínimo bizarro?

Eu poderia colocar aqui outros tantos questionamentos que me passaram pela cabeça, mas a verdade é que eu nem consegui continuar assistindo, embora tenha ficado impressionada positivamente com a obra, mas algo em mim fica dizendo que não é lá muito “ético” assistir.

Sendo assim, finalizo com apenas mais um questionamento: isso tudo faz algum sentido ou só eu estou confusa assim?