ONDE >> Carla Dias
De onde em onde, ele muda de cara. Então, acabamos debaixo de uma variedade de circunstâncias indigestas, protegidos pela ideia de que seria lindo estar onde gostaríamos.
Dureza é não saber onde este onde fica.
Segundos depois, diante da presteza do desapontamento, o onde nos escapa, e lá estamos, sem onde e sem quando e sem seta apontando para a geografia da fuga.
Aliás, fuga é o onde sempre à disposição, basta o interessado se dispor a cortejá-la, o que é feito, quase sempre, como fosse possível coordenar os rompantes dela. Enganar-se, por gosto ou escolha, é terapia ocupacional para quem não sabe onde fica o onde estar.
Meu onde às vezes cabe em um livro, mas, não raro, se esparrama no olhar de outras pessoas. Ele se espreme entre ocorridos e a necessidade de voz, então, música. Chão frio recebendo pés descalços, durante verão desaforado, é onde a durar o tempo de alguns pares de pensamentos desapegados de urgência. Onde também é abraço.
Onde é ocupado por panelas, copos, pratos, roupas, silêncios, carros; sinalizado por código postal, senha de atendimento, número de telefone. Onde mora em gavetas de guardar memórias, lixeira para descarte de finitos, estandes portadores de badulaques.
Há dias em que o onde some com as nossas chaves.
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