VEREDICTO >> Sergio Geia
Júlia, uma amiga, convidou-me para conhecer o bar. Estranhei. Júlia, advogada, abrindo bar? Ele se chama Veredicto e fica em Mogi das Cruzes.
Gosto de botequim, tira-gostos, geladas, uma cachacinha. Meu Instagram privilegia postagens desse tipo. Além de crônicas, de momentos da vida, ele traz delícias do mundo botequeiro.
Em Mogi, a propósito, já estive no Baratotal, noitada inesquecível — embora muita coisa tenha esquecido (por razões óbvias). Os músicos, depois do trabalho na noite, se encontram no Baratotal, e até se juntam no palco para o prazer da moçada que fica até de madrugada. Lembro do Refari Tuta (Flaviola, pros íntimos), do Breno Pereira, da Sandra e Jéssica Vianna, do Celsinho Andrade. Foram duetos e performances incríveis.
Então, se Júlia me chama para conhecer o seu boteco, o chamado, sem mais delongas — para usar um bom juridiquês —, deveria ser prontamente atendido. Não foi. Embora super bem-intencionado, o convite me causou estragos já na largada. Veja você mesmo:
“Senhoras e senhores. Fiel Torcida. Chegou a hora do julgamento final: o VEREDICTO está dado! É com imenso orgulho que anunciamos a inauguração do VEREDICTO – A SENTENÇA ALVINEGRA, o maior bar corintiano do Alto Tietê! Idealizado pela apaixonada corintiana Dra. Júlia Cezare, este espaço nasceu para ser o ponto de encontro oficial do Bando de Loucos em Mogi das Cruzes. Aqui, a democracia se vive no copo e na alma, como ensinou o eterno Doutor Sócrates. A grandeza se impõe como um gol decisivo de Ronaldo Fenômeno. O presente e o futuro brilham como a garra de Yuri Alberto e a ousadia de Memphys. No VEREDICTO, a única regra é celebrar o Corinthians com raça, alegria e união! AGUARDEM, convoquem os amigos e venham viver essa experiência única. O juiz já apitou, e a nossa sentença é clara: Corinthians e Heineken gelada combinam mais do que tudo! Vai, Corinthians!”
Murchei.
Não, não pode ser. Mesmo que depois ela dissesse carinhosamente que haveria um espaço reservado a mim. Mas se a única regra é celebrar o Corinthians, o que vou eu fazer lá? Meu coração não resistiria. Ele já anda batendo forte por uma alma desse bando, mas não, esse Veredicto não é pra mim.
Minha resposta foi breve. E honesta:
— Acho que não me sentiria bem.
Confesso que até imaginei revidar a provocação, mas não faria isso com Júlia, ainda mais num momento tão especial da vida dela.
Tipo como um lugar desses sobrevive sem verde? Nem uma plantinha? Uma muda de zamioculca em vaso, um periquito, ainda que num quadro na parede, grama no chão, sintética, por favor, o bar da Júlia ficaria tão bem, sem contar que verde é vida e atrai títulos, já pensou num Michelin? Seria massa, muito massa.
Mas esses pensamentos eu guardo pra mim; ou pras crônicas.
Avanti, Júlia Cezare!
Sucesso pro Veredicto.
Ilustração: Pixabay
Comentários
Adorei essa crônica!