ALDEIA GLOBAL ADIADA COM SUCESSO >> André Ferrer

O contraste entre a conexão global proporcionada pelas redes sociais e o suposto isolamento que elas podem causar é, em grande parte, uma simplificação que ignora a complexidade das interações humanas no mundo contemporâneo. A simplificação do debate é nociva e tem colocado uns contra os outros além de impedir a qualidade das informações. Neste cenário, a derrubada das fronteiras estagnou como promessa. A integração da humanidade, numa verdadeira Era do Conhecimento, ficou para depois — ainda nos anos 2000.

As redes sociais revolucionaram a maneira como nos conectamos, aproximando pessoas independentemente de barreiras geográficas. Elas permitem o fortalecimento de laços entre amigos e familiares distantes e oferecem acesso a comunidades com interesses comuns, criando um senso de pertencimento e ampliando horizontes. Ferramentas como chamadas de vídeo e mensagens instantâneas tornam possível estar presente, ainda que virtualmente, em momentos importantes da vida das pessoas que amamos. Além disso, plataformas digitais proporcionam uma troca de ideias e experiências enriquecedoras, promovendo diversidade cultural e aprendizado.

IMAGEM: ChatGPT

Por outro lado, o impacto das redes sociais sobre as conexões presenciais merece atenção. Interações virtuais, embora práticas, podem enfraquecer relações no mundo físico ao substituir encontros cara a cara por mensagens e curtidas. Esse isolamento pode gerar sensação de solidão, especialmente quando a interação online carece de profundidade emocional. Além disso, o tempo excessivo dedicado às redes sociais pode reduzir oportunidades de cultivar relações próximas e autênticas, deixando de lado a importância do contato humano direto e do afeto tangível. Assim, é essencial equilibrar o uso dessas plataformas para aproveitar suas vantagens sem comprometer a qualidade das conexões pessoais.

As redes sociais não substituem as conexões presenciais por conta própria, mas funcionam como extensões dessas relações, muitas vezes fortalecendo vínculos já existentes e criando oportunidades para novas interações significativas. Em vez de tratar o virtual e o presencial como opostos, é mais produtivo reconhecer que ambos se complementam, o que enriqueceria as discussões e promoveria soluções. Um mundo globalizado, afinal, depende de uma grande e verdadeira integração humana para se sustentar. Do contrário, as rachaduras que já se anunciam crescerão até que a única fração globalizada do mundo, a econômica, desmorone.

Comentários

Nadia Coldebella disse…
Lendo seu texto, que diga-se de passagem é digno da prova do Enem , fico pensando que apesar de nos conectarmos e nos vinculamos, as fronteiras entre os países estão cada vez mais demarcadas, assim como outras barreiras que pareciam estar dissolvidas. Será o velho paradigma dando seu último suspiro?
Jander Minesso disse…
Esse texto me fez pensar, André: será que a gente se afeiçoou tanto à divisão de tudo que estamos esquecendo da necessidade da síntese?
Zoraya Cesar disse…
"mas funcionam como extensões dessas relações, muitas vezes fortalecendo vínculos já existentes e criando oportunidades para novas interações significativas. " Isso é bem interessante e acredito nisso. Quem gosta de agregar, agrega. Quem é tendente ao isolamento, se isola mais. Certo q estamos numa época meio doentia, mas creditar isso às redes sociais, somente, é, como sempre fazemos, botar a culpa no 'outro'. Todas as revoluções dos meios de produção mudaram o mundo. Sobreviveu quem se adaptou ou quem o interesse econômico achou por bem salva. Nossa, vou ter de reler algumas vezes esse texto e usá-lo como referência para argumentação
Albir disse…
Quando a presença é impossível, a interação virtual é melhor que nada, reduz os danos. O problema é que acaba gerando uma desnecessidade de presença. A médio e longo prazo gera distância e solidão.

Postagens mais visitadas