ESCUTA AQUI... >> Soraya Jordão
É crescente a quantidade de situações em que o falante não fica à vontade para dizer o que gostaria, por temer ser julgado ou cancelado, ou, tendo dito, não se sente escutado verdadeiramente pelo interlocutor como se faltasse interesse ou boa vontade do destinatário.
Do outro lado, o ouvinte, muitas vezes, reclama da falta de noção do emitente da mensagem, pois os assuntos parecem se dividir em dois eixos: exposição de vantagens a respeito de si mesmo e
ostentação das grandezas conquistadas ou queixas e lamúrias de uma vida injusta e ingrata (vitimização na busca de reconhecimento).
O monólogo forjado de diálogo tem gerado consequências desastrosas para a interação e parceria entre os pares. Muito se culpa a pandemia pelo desinteresse nos encontros e na convivência com os grupos de amigos. Grande parte reconhece não ter mais o mesmo ânimo para socializar. Outros percebem um rápido descarregamento da bateria social. A coisa anda esquisita. O clima pesa. A graça não resiste.
Me pergunto se nós também não nos tornamos perfeitos demais, bem-sucedidos demais, críticos demais para contar “causos”, enganos e infortúnios com a simplicidade do ontem.
O mundo era mais divertido quando dividíamos nossas fragilidades com humor. Não carecíamos de tanta urgência e presteza na resolução dos impasses. Falantes e ouvintes se interessavam pela partilha das histórias. Hoje, interessante é ouvir passivamente o relato dos famosos desconhecidos sobre suas vidas magníficas.
Essa ilusão de felicidade plena é muito deprimente.
Comentários
Texto pra lá de importante!