ESCUTA AQUI... >> Soraya Jordão


A comunicação entre os seres, a capacidade de dialogar, trocar ideias, expressar intenções e sentimentos, quando observada de perto, cada vez mais parece depender de algum tipo de magia ou milagre. 

É crescente a quantidade de situações em que o falante não fica à vontade para dizer o que gostaria, por temer ser julgado ou cancelado, ou, tendo dito, não se sente escutado verdadeiramente pelo interlocutor como se faltasse interesse ou boa vontade do destinatário.

Do outro lado, o ouvinte, muitas vezes, reclama da falta de noção do emitente da mensagem, pois os assuntos parecem se dividir em dois eixos: exposição de vantagens a respeito de si mesmo e

ostentação das grandezas conquistadas ou queixas e lamúrias de uma vida injusta e ingrata (vitimização na busca de reconhecimento). 

O monólogo forjado de diálogo tem gerado consequências desastrosas para a interação e parceria entre os pares. Muito se culpa a pandemia pelo desinteresse nos encontros e na convivência com os grupos de amigos. Grande parte reconhece não ter mais o mesmo ânimo para socializar. Outros percebem um rápido descarregamento da bateria social. A coisa anda esquisita. O clima pesa. A graça não resiste. 

Me pergunto se nós também não nos tornamos perfeitos demais, bem-sucedidos demais, críticos demais para contar “causos”, enganos e infortúnios com a simplicidade do ontem. 

O mundo era mais divertido quando dividíamos nossas fragilidades com humor. Não carecíamos de tanta urgência e presteza na resolução dos impasses. Falantes e ouvintes se interessavam pela partilha das histórias. Hoje, interessante é ouvir passivamente o relato dos famosos desconhecidos sobre suas vidas magníficas. 

 Essa ilusão de felicidade plena é muito deprimente. 

Comentários

Albir disse…
Concordo, Soraya! E tenho medo que não consigamos mais voltar, esquecidos da importância da troca. Parece mais uma sequela do isolamento covid.
Nadia Coldebella disse…
Pode até ser uma sequela do COVID, que afetou a memória e fez as palavras se perderem. Mas eu penso q andamos saturados de informação, úteis e inúteis, e imersos num ciclo vicioso para obter mais. Hj em dia todo mundo tem alguma coisa pra falar, mas pouca disposição pra ouvir. Eu pessoalmente prefiro me calar. Nem falar, nem ouvir , silenciar. Talvez, como eu, alguns sintam a consequência da pandemia ou um resultado de um mundo tão barulhento e sem disponibilidade. Melhor chutar o balde!
Texto pra lá de importante!
Anônimo disse…
Uma excelente reflexão...
Ana Raja disse…
Soraya, que bela reflexão. Tenho essa sensação que vc descreveu. A paciência, o se doar para outro praticamente não existe. Eu já ouvi de uma pessoa que não convive com problemas dos outros. Não querem ouvir.
Ainda bem q existem amizades como a nossa.
Jander Minesso disse…
Acho que o Stephen Hawking também debateu esse problema. Ele dizia que o maior milagre da humanidade era a fala e que qualquer obstáculo seria superável se a gente cuidasse desse dom.
Zoraya Cesar disse…
Reflexão importante! Engraçado q vc e Nádia falaram sobre o mesmo assunto!
Ah eu tb não curto estas trocas que vc descreve… acho que o importante é se rodear de bons amigos para compartilhar nossas experiências reais e dar risadas juntos!

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