POSSO SER PAI? >> Clara Braga

Ao final da minha última gestação, alguém me perguntou se eu não tinha vontade de engravidar uma terceira vez para tentar ter uma menina.

Minha resposta foi certeira: só tenho outro filho se eu puder ser pai!

A pessoa em questão achou que eu estava alfinetando meu marido! Bom, aqui em casa anda tudo dentro dos conformes. Já com a nossa sociedade não posso afirmar o mesmo.

Na minha casa tem pai que sabe que ele não é rede de apoio, ele divide comigo todas as responsabilidades que chegam com um filho. Mas ele é visto como um super pai por isso, eu sou apenas uma mãe normal.

Ele arruma mochila, ele prepara o lanche da escola, ele leva e busca dentro do horário. Eu também, mas o dia que ele atrasar vai estar tudo bem, atrasos acontecem. O dia que eu atrasar vou ser uma mãe relapsa. Ao homem é dado o direito de errar, à mulher não.

Tanto ele quanto eu trabalhamos a maior parte do tempo em homeoffice. Eventualmente precisamos sair, mas com certeza você nunca viu pessoas escrevendo artigos e gravando podcasts dizendo que quando o pai sai para trabalhar ele está causando algum dano ao seu filho, já as mães…

Meu marido não tem problema nenhum em ficar com os filhos para eu sair, assim como eu também não. Mas se ele sai e posta alguma foto nas redes sociais, as pessoas curtem. Se eu saio e posto nas redes sociais, logo alguém me manda mensagem perguntando quem está com meus filhos.

Se a roupa está muito grande ou muito curta, se o cabelo está bagunçado, se o sapato está velho ou qualquer coisa do tipo, a primeira a ser questionada é a mãe.

Então, volto a dizer, eu não tenho problema nenhum com meu marido, mas se fosse para ter outro filho, eu queria ser pai!

Comentários

Nadia Coldebella disse…
Ainda não existe um equilíbrio claro. Acho que se de um lado, "a culpa é sempre da mãe", de outro essa supervalorização da maternidade tira dos homens o direito de estar em pé de igualdade. Até hoje, nos divórcios, é comum a guarda ficar com a mãe e os pais verem os filhos de 15 em q5 dias... Como se fossem desnecessários.
Zoraya Cesar disse…
Clara levantou uma questão que só o tempo e muita, muita conscientização, fora a desmitificação do papel a nós imposto, vão mudar.

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